Bebelplatz: memorial dos livros queimados em Berlim
A Bebelplatz, a sul da avenida Unter den Linden, é um dos lugares mais interessantes de Berlim, por sua arquitetura e história. Essa praça foi um dos epicentros do Iluminismo na Alemanha, lugar frequentado por muitos filósofos e cientistas… E acabou também sendo palco de um episódio que marcou o período sombrio do nazismo.
Bebelplatz e a Universidade Humboldt
Em cada canto, a Bebelplatz revela um prédio mais bonito que o outro. A começar por um dos mais prestigiados: a Universidade Humboldt. Foi a primeira universidade de Berlim e se tornou referência para muitas outras na Europa. Ali estudaram Karl Marx, Schopenhauer, Albert Einstein e um montão de outros gênios (29 ganhadores de Prêmios Nobel!).
Outra construção que logo chama a atenção é o teatro (mais impressionante por dentro que por fora) da State Opera, que dava nome à praça – Opernplatz, antes que passasse a homenagear August Bebel, um dos fundadores do Partido Social Democrata Alemão no século 19.
Também fica na Bebelplatz a Catedral de St. Hedwig (que foi a primeira igreja católica da Prússia depois da Reforma Protestante, como sinal de tolerância religiosa) e o Prinzessinnenpalais, antiga residência real da Prússia.
O banco do filme Corra, Lola, Corra!
Mais no campo da curiosidade que da história, completa a praça o grandioso Hotel Roma, que foi cenário para o filme “Corra, Lola, Corra”, um ícone dos anos 90. Esse prédio, que já foi sede de um banco antes de ser convertido em hotel, aparece no filme como “Deutsche Transfer Bank”. Esse é o lugar para onde tanto corre a Lola!
Porém há outro filme que remete à Bebelplatz, por um motivo muito mais inquietante… Fahrenheit 451, dirigido por François Truffaut, é uma adaptação do livro de Ray Bradbury sobre uma distopia onde livros são totalmente banidos.
Livros queimados pelos nazistas
A queima de livros, em 1933, é de longe a história mais impressionante da Bebelplatz. Durante o regime nazista, tudo o que fosse crítico ou desviasse dos padrões impostos pela doutrina hitlerista entrava na lista de publicações proibidas.
Por ser o local de uma das mais proeminentes universidades da Europa e da Alte Bibliothek, maior biblioteca da Alemanha, a Bebelplatz foi alvo de apreensão e destruição de livros e artigos científicos censurados pela ditadura.
Membros da União Estudantil nazista alemã organizaram uma queima de livros, jogando importantes obras da literatura mundial no fogo. Muitos dos autores denunciados já haviam se exilado, mas outros ainda estavam lá – como Erich Kästner, que chegou a ver seus livros pegando fogo.
Mais de 20 mil livros foram censurados e destruídos em toda a Alemanha, incluindo obras de Freud e Nietzsche, sob a justificativa de que a literatura alemã precisava ser purificada de elementos considerados “undeutsch”.
Memorial dos livros queimandos
Hoje, no meio da Bebelplatz, há uma placa de vidro no chão que revela um memorial subterrâneo, com prateleiras de livros vazias sob a praça.
A instalação, criada pelo escultor israelense Micha Ullman é um memorial discreto porém muito bonito. Ao lado, a citação do poeta Heinrich Heine faz a gente se arrepiar: “Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas também”.
E se tem uma coisa que eu admiro muito na Alemanha é que o país não esconde a sua história e faz questão de registrar, sempre de forma muito respeitosa, até os momentos mais difíceis. A mensagem é muito clara: nunca esquecer para nunca repetir.
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