Memento Park, em Budapeste: a herança comunista da Hungria
Quando há algum tipo de revolução ou golpe de estado, uma das primeiras providências dos novos líderes costuma ser arrancar da capital todos os símbolos do regime político anterior. Não é difícil imaginar que muitas cidades tenham perdido parte de seus patrimônios históricos assim, mas esse não foi o caso de Budapeste.
O Memento Park, que em húngaro se chama Szoborpark (XXII Balatoni út 16-18), é um grande museu ao ar livre criado poucos anos depois da queda do regime comunista na Hungria, no início da década de 1990. Lá estão mais de 40 estátuas de ativistas políticos e líderes soviéticos, como Vladimir Lênin, que durante quatro décadas estiveram por toda a cidade.
A ditadura comunista na Hungria
No hall de exposição do parque há fotos e vídeos que contam a história do período, mas vou tentar contextualizar rapidamente: o poder da União Soviética sobre a Hungria começou a ser conquistado na Segunda Guerra Mundial e se concretizou em 1949.
Houve uma tentativa de levante com a Revolução Húngara de 1956, mas que foi sufocada pela “Operação Vendaval” dos soviéticos. Foi apenas em 1989, no ano da queda do Muro de Berlim, que outra onda revolucionária, conhecida como “Outono das Nações”, enfim levou ao colapso o comunismo no Leste Europeu.
O comemorado fim do comunismo
A queda do regime ditatorial comunista foi muito comemorada na Hungria. Não entenda o Memento Park como uma homenagem ao período, mas como um convite ao livre debate sobre a história política do país.
A verdade é que muitas estátuas erguidas pelos soviéticos foram destruídas pela população assim que o regime caiu. As que sobraram estão preservadas nesse parque a pouco mais de 10 km do centro da cidade e, de certa forma, não deixam de ser um acervo da arte praticada na época.
Logo perto da enorme estrela vermelha feita de flores, no jardim do parque, estão as figuras de Marx e Engels, grandes teóricos da política e da economia, autores de “O Capital”.
Sobre um enorme pedestal, a reprodução das botas de Stalin, feita em 2006, representa a única parte que sobrou da gigantesca estátua derrubada na Revolução de 1956.
Como não podia deixar de ser, o lugar também é cheio de estátuas enaltecendo a imagem idealizada do trabalhador – o proletariado com ar heroico. Dizem que, mesmo durante a ditadura comunista, os húngaros debochavam das estátuas e davam apelidos engraçadinhos.
Trabant: o carrinho comunista
Não deixe de olhar de perto o Trabant, carro comum entre os países comunistas, que também acabou virando piada. Com a carroceria feita de fibra de plástico, ele volta e meia é usado como exemplo do péssimo desenvolvimento industrial do bloco não-capitalista durante a Guerra Fria.
Tem um carrinho desses no Memento Park, mas com certeza você também verá Trabants pelas ruas de Budapeste.
Estátua da Liberdade em Budapeste
Em Budapeste há uma outra estátua (essa ainda em seu local original) que também merece ser vista… Em frente ao forte da Citadella, no alto do Monte Géllert, está a Estátua da Liberdade, de onde se tem uma das mais belas vistas de Budapeste e do rio Danúbio.
A estátua foi erguida em 1947 para celebrar as tropas soviéticas que libertaram Hungria dos nazistas, no fim da Segunda Gerra Mundial. Mal sabia ela que ainda testemunharia 40 anos de ditadura até que seu nome ganhasse algum sentido…
Aproveite para visitar a exposição do forte, estratégico tanto nas batalhas empreendidas pelo Império Austro-Húngaro quanto durante a Segunda Guerra. Também vale ver a Cave Church, a igreja construída em uma caverna, e o Monumento a Géllert perto da ponte Elizabeth.
Observe que ainda é possível ver as cicatrizes de tiros e balas de canhão nas paredes do forte, jamais restauradas. O mesmo vale para a região do castelo, que não esconde os vestígios de guerra. A Hungria parece prezar as marcas históricas como objeto de reflexão e aprendizado.
A bandeira com furo no meio
A bandeira da Hungria, que à época era estampada com um brasão de armas representando as forças soviéticas, também foi alvo dos revolucionários de 1956. Cortaram-lhe o emblema Stalinista e deixaram apenas as faixas vermelha, branca e verde.
Quando passar em frente ao lindíssimo Parlamento, note a bandeira nacional com um furo no meio, ainda afirmativa do desejo de liberdade política.
Casa do Terror: museu de propaganda
A Casa do Terror é um museu que se propõe a mostrar o impacto da ocupação nazista e da ditadura comunista na vida da população húngara. Aberto em 2002, se tornou uma atração famosa pela estrutura moderna e pela exposição impactante. Além de textos e fotos, exibe objetos de época e remonta salas de interrogatório e tortura (que aconteciam ali mesmo, naquele prédio, onde funcionou um QG nazista).
Pouco depois, no entanto, começaram a surgir questionamentos sobre falhas históricas do museu e manipulação de informações em favor de políticos de extrema-direita no país.
Tours temáticos sobre o comunismo
Viajar pelo Leste Europeu é se deparar com evidências de episódios que transformaram a história mundial. A cada cidade, tour e museu a gente aprende um pouco mais, e é preciso ter sempre um olhar crítico.
Algumas opções de passeios para conhecer Budapeste e debater a história da cidade são o free walking tour e o roteiro dos guias especializados no período comunista.
Quem quiser alugar um carrinho Trabant ou experimentar alguns produtos de época, pode aproveitar a onda retrô que está fazendo sucesso entre os mais jovens (que não sofreram as angústias da ditadura).
Como chegar ao Memento Park
Para visitar o Memento Park, tem um ônibus direto que sai às 11h da Deák Ferenc Tér (uma das principais praças no centro da cidade) e leva para uma visita guiada no parque. Durante a alta temporada (julho e agosto) tem outra saída às 15h.
Se preferir o transporte público, pegue o ônibus 150, que sai da estação Ujbuda Kozpont, de Buda. O parque funciona diariamente das 10h até o anoitecer.