A viagem dos Caçadores de Obras Primas
O filme Caçadores de Obras Primas me encantou de um jeito que eu nem esperava. Não é um filme de guerra daqueles que fazem o cinema tremer a cada explosão, nem é tão pop quanto o elenco estilo Onze homens e um Segredo faz parecer…
Mas é um filme sensacional pra quem curte arte e história (e viagem também). Nunca imaginei ver a Segunda Guerra Mundial sob este ponto de vista!
A Alemanha tinha um planejamento tático para o roubo de obras de arte tão elaborado quanto para as operações militares propriamente ditas. O objetivo era uma dominação não apenas política mas cultural.
De esculturas de Michelangelo a pinturas de Rembrandt, o exército nazista tinha uma longa lista de obras primas a serem capturadas e levadas para o Führer.
Tanto Adolf Hitler quanto Hermann Göring, braço direito do ditador, eram entusiastas das belas artes e usaram as invasões para expandir não apenas o acervo de seu império como suas coleções particulares (reza a lenda que Hitler gostava muito de pintar e era um artista frustrado).
Foi então que entrou em cena, em junho de 1944, um grupo que ficou conhecido como “Monuments Men”. No filme, o grupo é representado por apenas 7 camaradas, mas na vida real tinha um total de 345 pessoas, de 13 países Aliados. Eles eram os encarregados de salvar o patrimônio cultural mundial enquanto tudo estava sendo destruído pela guerra.
Praticamente todos os grandes museus da Europa passaram 6 anos fechados, com seu acervo escondido em locais remotos. Somente o Museu do Louvre enviou 400 mil itens para cidades interioranas da França.
Os esforços foram grandes para proteger as peças mais valiosas, como a Mona Lisa, que foi transferida de um lado para o outro entre 6 cidades da França para que não fosse encontrada pelos invasores.
Se à primeira vista o filme parece meio devagar, logo a gente repara que o ritmo narrativo nos faz compreender a sensação de deslocamento e desorientação daquele grupo de curadores, historiadores e arquitetos no meio da guerra.
Eles claramente não tinham nenhuma vocação militar, mas estavam determinados em sua missão de resgatar obras de arte que vinham sendo saqueadas durante a Segunda Guerra Mundial.
Quem gosta de arte sai do cinema com vontade de apreciar de perto aqueles quadros e esculturas que correram risco de serem destruídos para sempre. Anote aí o nosso roteiro pela França, Bélgica, Alemanha e Itália para encontrar as preciosas obras primas!
Paris: Museu Jeu de Paume
Podemos começar nosso roteiro de viagem em Paris, no Museu Jeu de Paume, localizado nos Jardins de Tuileries, perto da Place de la Concorde. O prédio se tornou o QG dos nazistas para o depósito de obras roubadas. Atualmente, muitas das peças impressionistas que faziam parte de seu acervo estão no Museu D’Orsay, enquanto o Jeu de Paume passou funcionar como galeria de arte contemporânea.
A Madonna de Bruges
De Paris, podemos seguir para o norte da Bélgica, para visitar a Onze-Lieve-Vrouwekerk (Igreja de Nossa Senhora) onde fica a Madonna de Bruges, a paixão do personagem Donald Jeffries no filme, esculpida em mármore por Michelangelo.
A estátua foi roubada em abril de 1945 e reencontrada dois meses depois nas minas de sal de Altaussee, a 45 minutos de Salzburg, na Áustria, junto com outras 140 esculturas e mais de 6.600 pinturas que seriam levadas para o Führermuseum, que Hitler pretendia construir na cidade austríaca de Linz.
O Retábulo de Ghent
Mais uma hora de trem nos leva a Gante, também na Bélgica, para ver o retábulo da Catedral de St Bavo (Ghent Altarpiece), outra obra que aparece em destaque ao longo do filme. Os painéis haviam sido escondidos na França na tentativa de evitar o roubo, mas depois foram levados pelos nazistas para o sul da Alemanha antes de ir para os túneis de Altaussee.
As minas de Altaussee, Heilbronn e Merkers
As minas eram um dos tipos de esconderijo preferidos dos nazistas. Em Heilbronn, onde também se extraía sal, na Alemanha, os Caçadores de Obras Primas encontraram o auto retrato de Rembrandt, entre muitas outras obras.
As barras e moedas de ouro encontradas nas minas de Merkers, retratadas em cenas de humor no filme, são hoje avaliadas em quase US$ 5 bilhões.
Obviamente, os museus não eram os únicos alvos. Bibliotecas inteiras foram saqueadas e muitas peças foram confiscadas também das casas de judeus – que, por não serem mais reconhecidos como cidadãos, não tinham direito a propriedade.
Sumiam com tudo o que fosse de interesse: louças, pratarias, instrumentos musicais, objetos religiosos… Consta que foram roubados até 5 mil sinos de igrejas durante a Segunda Guerra.
Cidades da região da Baviera como Osterwieck e Halberstadt também aparecem no filme, pois muitas vezes as peças de valor eram escondidas nas casas de pessoas comuns, para despistar.
Castelo de Neuschwanstein
Seguindo viagem para o sul da Alemanha, nas redondezas de Munique, incluímos no roteiro o romântico castelo de Neuschwanstein, construído no século 19 pelo rei Luís II da Baviera (conhecido como Mad Ludwig). Esse foi o destino de muitas obras roubadas da França, encontradas lá pelos Monuments Men em abril de 1945 – duas semanas antes de Hitler se suicidar em Berlim.
Com um pouco mais de tempo, quem sabe um pulinho na cidade de Ellingen, para ver a igreja para onde foram levadas muitas das peças recuperadas antes de serem devolvidas aos seus locais de origem.
A Última Ceia, em Milão
Continuando em direção ao sul, cruzamos a fronteira da Itália e chegamos em Milão, onde vale apreciar a Última Ceia, de Leonardo da Vinci, que não foi destruída por pouco. Uma bomba atirada sobre a cidade em 1943 acertou a Igreja de Santa Maria delle Grazie e a parede com o mural foi uma das poucas a se manter de pé.
Ok, eu entendo que o filme não tenha o tom heroico hollywoodiano. Mas para quem gosta de história da arte, é muito interessante ver a guerra sob outra ótica e saber o que está por trás de algumas das obras primas mais conhecidas da Europa. A jornada dos Caçadores de Obras Primas certamente inspira um grande roteiro de viagem :)
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