Um passeio de barco pelas ilhas de Veneza e as casas coloridas de Burano
Se você curte fotos de viagem, te desafio a passar 3 minutos no Pinterest sem dar de cara com uma imagem de Burano. As casinhas coloridas às margens dos canais são um charme e fizeram a ilha se tornar um hit na internet.
Além de tudo o que queríamos ver e fazer em Veneza, reservamos um diazinho a mais para conhecer Burano e mais duas outras ilhas da lagoa: Murano e Torcello. A Itália nos retribuiu com uma manhã de sol linda para colorir ainda mais a paisagem ♥
Fizemos um passeio guiado de 4 horas a convite da Viator, que trabalha com uma operadora local. Pegamos logo o primeiro barco da manhã, que é mais vazio e tranquilo, saindo às 9h do deque atrás da Piazza San Marco. Nicole, a nossa guia, foi contando as histórias e ajudando a entender tudo o que se vê enquanto o barco cruza as águas da Laguna Veneta.
A ilha das casas coloridas
Burano é tipo a versão veneziana de La Boca – uma região de pescadores que conquista pela simplicidade e pelas cores vibrantes (não usei Photoshop nas fotos!). Dizem que no início as casas eram pintadas assim para ajudar os homens a encontrarem o caminho quando voltavam da pesca depois de o sol se pôr. Depois, cada família passou a adotar uma cor para se representar.
Se estivéssemos no século 16, as fotos que rodariam o mundo não seriam das casas, mas das rendas. Foi isso que fez a fama de Burano naquela época. As mulheres da ilha, de tanta prática em fazer redes de pesca, se tornaram as melhores rendeiras do velho mundo.
Até hoje as lojinhas de Burano oferecem as coisas mais lindas feitas de tecido rendado, que lá eles chamam de merletto buranese. E o mais impressionante é que as rendas formam desenhos completos, paisagens, barcos… tudo feito com a maior delicadeza! Além das toalhas de mesa, cortinas etc. as lojas vendem quadrinhos com as imagens rendadas.
Uma pena pensar que essa arte que está se perdendo aos poucos. As jovens italianas não querem se dedicar a um produto tão trabalhoso que perdeu tanto mercado nos tempos modernos… e só se veem senhorinhas rendeiras pela ilha.
Biscoitos típicos de Burano
Depois de dar uma volta pelos arredores da Piazza Galuppi, que homenageia um compositor italiano nascido na ilha, escolha uma das muitas padarias de Burano e aproveite para experimentar os doces e biscoitos caseiros. Eu comi uns deliciosos!
O mais tradicional é a bussolà buranelli, um biscoitinho amanteigado que se come depois do almoço ou do jantar (é servido em alguns restaurantes de Veneza, quando você pede a conta). Como ele é meio sequinho, os locais gostam de comer a bussolà mergulhada em Fragolino, um vinho doce feito de uva fragola (uma “berry” italiana).
Assim como os amanteigados daqui, os de lá são vendidos em vários formatos: rosquinhas, palitinhos… mas o mais popular é o “essi di Burano”, em forma de S, que é ótimo para pendurar o biscoito na beira da taça de fragolino ou da xícara de café :)
Enquanto o barco se afasta, você olha para a ilha de Burano é vê a Torre San Martino, que começou a tombar logo depois da construção, no século 18, e chegou quase à mesma inclinação que a Torre de Pisa antes de ser aparada.
Os famosos vidros de Murano
A outra grande atração do passeio de barco é Murano, onde as cores não estão nas construções, feitas de tijolo cru, mas nos vidros artesanais produzidos lá. A gente desce do barco direto para uma demonstração das duas principais técnicas: vidro soprado e escultura.
A demonstração é bem legal, muito interessante ver o domínio técnico e a agilidade dos vidreiros! É lógico que depois eles te convidam para ver a lojinha da fábrica de vidro, mas se segure e continue andando ao longo da ilha que os preços vão melhorando à medida que você se afasta do barco.
Não se vê outra coisa em Murano: uma fábrica de vidro atrás da outra, e isso não é por acaso. A cidade de Veneza resolveu transferir toda a sua produção de vidro para esta ilha no século 13, como forma de proteger a área residencial (pois as fornalhas das vidrarias já tinham causado alguns incêndios) e também como forma de proteger suas técnicas tradicionais, que já estavam atraindo espiões industriais de outros cantos da Europa!
E foi assim que a produção de vidro em Murano se manteve artesanal, passada de pai para filho, mestres para aprendizes. Um dos mestres vidreiros mais famosos da ilha é Pino Signoretto, que fez algumas peças para o jardim de Dale Chihuly em Seattle e chegou a trabalhar com ninguém menos que Salvador Dalí!
Outras surpresas em Murano
Para além das tantas vidraçarias e do próprio Museu do Vidro (não conheço ninguém que tenha ido, os passeios de barco costumam ser rápidos), vale dar um pulinho na Basílica de Santa Maria e São Donato, que é de tijolo como boa parte das casas mas por dentro é decorada por mosaicos lindos.
Se tiver mais tempo, cruze as pontes até a ilhazinha oposta a onde o barco atraca para procurar os Lampioni Innamorati, dois postes torcidos que parecem estar dançando apaixonadamente ♥
Mas atenção: não vá atrás dos postes apaixonados se você não tiver pelo menos meia hora até a saída do seu barco, ok? O caminho até a Calle della Pescheria tem poucas pontes e por isso a volta acaba tomando certo tempo (veja o mapa).
Torcello: a ilha mais antiga
Torcello, a última ilha do passeio, foi na verdade a primeira a ser habitada na Lagoa de Veneza, ainda no século 5. Na queda do Império Romano quando de Átila, o Uno, tomou a região de Altino, Torcello foi o lugar seguro que o povo de lá encontrou para se refugiar das Invasões Bárbaras. Foram esses romanos que deram nome a muitos lugares ali – Torcello e Murano, por exemplo, fazem referência à torre e à muralha que existiam em Altino.
A Catedral de Santa Maria Assunta, erguida no século 7, tem muita influência bizantina em sua arquitetura, prova dos negócios que enriqueceram a vila. A poucos passos da catedral, as únicas duas outras atrações de Torcello: a Igreja de Santa Fosca, do século 11, e o Museo Estuario, com objetos arqueológicos dos períodos Romano, Bizantino e Medieval.
O maior desenvolvimento da região da Laguna Veneta aconteceu em função da atividade portuária no século 12, pois ali ficava o primeiro grande porto entre a Europa e a China. A indústria naval também era forte, e Veneza foi pioneira no sistema de produção em cadeia para construir embarcações, com fornecedores especializados em cada pedaço do navio (em plena a Idade Média!)
Do poder econômico que Torcello tinha naquela época não sobrou nada. Depois de uma grave epidemia de malária, a ilha foi abandonada e parou no tempo. Seus palácios e mosteiros hoje são ruínas. Os moradores da ilha não chegam a 15 pessoas e o comércio local se resume a 4 restaurantes. Mas o incrível da visita é justamente conhecer a história, pois a ocupação de Torcello mudou para sempre o destino de Veneza.
Tour pelas ilhas de Veneza
O tour de barco pelas 3 ilhas – Murano, Burano e Torcello – é o mesmo preço que o passe diário para os barcos públicos. Você escolhe se quer fazer tudo no seu ritmo ou se prefere ter um guia para contar a história que você não saberia só de olhar.
O roteiro que nós fizemos prevê 50 minutos em cada ilha. É um tempo razoável, mas acho que eu ficaria um pouquinho mais em Burano ou Murano, se pudesse. O lado bom é que o passeio não fica tão longo e cansativo, dá pra encaixar fácil na programação mesmo que você tenha poucos dias em Veneza. Desembarcamos bem a tempo de almoçar!
Se você não puder pegar o barco do primeiro horário, a Nicole deu um bizu ótimo: o passeio das 15h, que é só em inglês, costuma ficar mais vazio do que os grupos que incluem italiano e espanhol ;)
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