O que fazer em Arles: roteiro Van Gogh
Arles é uma cidade pequena que fica no sul da França, na região de Provence. Em volta estão Avignon, Aix-en-Provence e Marseille – cada uma desses cidades possui alguma ligação com os pintores dos movimentos de vanguarda do século XX.
Basta lembrar de Les Demoiselles d’Avignon, que marcou o cubismo de Pablo Picasso; a montanha de Saint-Victoire, em Aix-en-Provence, tão pintada pelo impressionista Paul Cézanne (que chegou a ter uma casinha-ateliê na montanha); as pinturas do Porto de Marseille pelo pontilhista Paul Signac, e muitas outras.

Esta região mediterrânea inspirava – e inspira ainda – por suas belezas naturais, seu clima mais quente e, claro, suas praias.
Talvez a mais marcante das referências visuais que tenhamos do sul da França ainda seja através das grossas pinceladas de Van Gogh. O céu azul e os girassóis amarelos e alaranjados, a paisagem de Arles e seus arredores.

Arles foi um dos locais de maior importância para a obra de Vincent Van Gogh. Ali ele criou a maior parte das 500 pinturas a óleo e desenhos que produziu no curto período de 1 ano e meio que viveu no sul da França.
E, principalmente, ali ele encontrou o sol forte, a luz tão diferente do céu cinzento do norte da Europa, e as cores do campo – elementos que impactaram sua maneira de pintar e se tornaram sua marca registrada.

“Está fazendo um calor glorioso, sem vento, que me cai muito bem. A luz do sol é uma luz que, por falta de uma palavra melhor, só posso chamar amarela. É um amarelo pálido, de enxofre, de limão siciliano, de ouro. Como o amarelo é lindo! Ah, eu queria que você um dia pudesse ver e sentir o sol do sul” – Carta de Vincent a seu irmão Theo, em setembro de 1888
É uma experiência inacreditável viajar por essa região e poder observar as paisagens através de seu olhar!

Paisagens pintadas por Van Gogh
O centro de visitantes em Arles fornece um mapa de passeio a pé por 10 lugares em Arles retratados na obra de Van Gogh (que você pode baixar em PDF aqui).
O roteiro inclui a margem do rio que de onde ele viu a famosa Noite Estrelada sobre o Ródano, o Café Terrace na Place du Forum e o antigo hospital na Place du Docteur Félix-Rey, para onde Van Gogh foi levado após cortar sua orelha, e que também foi retratado em quadros.

A Place Lamartine também merece uma visita, mas infelizmente a Casa Amarela onde ele morou e fez seu ateliê não existe mais, foi destruída após um bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial…
“Minha casa aqui é pintada de amarelo, da cor de manteiga fresca, com janelas verdes; fica à luz do sol em uma praça que tem um jardim verde com plátanos, oleandros e acácias. E é completamente branca por dentro, e o chão é feito de tijolos vermelhos. E sobre ela o céu intensamente azul. Aqui eu posso viver e respirar, pensar e pintar” – Carta de Vincent a sua irmã Wilhelmina, em setembro de 1888

Uma referência ótima para seguir os passos do pintor é o site Van Gogh Route, projeto da fundação holandesa Gifted Art em parceria com o Museu Van Gogh em Amsterdam. Com mapas, informações e ilustrações, indica os principais endereços que fizeram parte de sua rota – em Arles e em outras cidades da Europa!
Fundação Van Gogh, em Arles
A Fundação Van Gogh é um centro de exposições criado para preservar a memória do pintor e estimular o desenvolvimento da arte contemporânea. É um espaço bem menor que o Museu do Van Gogh, em Amsterdã, mas vale muito a pena a visita!

Em vez de manter uma coleção permanente, a Fundação promove eventos e exposições temporárias. Geralmente são duas mostras simultâneas: uma sobre Van Gogh e outra sobre algum artista contemporâneo influenciado por ele.
As exposições são muito interessantes: é sempre um recorte de um período, tema ou fase artística. Isso nos dá a oportunidade de conhecer Van Gogh para além dos quadros mais famosos. Já teve uma exposição de desenhos e gravuras, por exemplo.

Também há exposições que reúnem obras de outros artistas modernos, de Pablo Picasso a Alexander Calder, cruzando como cada um abordou temas que também fazem parte do universo de Van Gogh.
“A natureza aqui é extraordinariamente bela. Tudo e em todo lugar. A cúpula do céu é de um azul maravilhoso, o sol tem um esplendor pálido, é suave e encantador, como a combinação de azuis e amarelos celestes em pinturas de Vermeer de Delft. Eu não pinto tão bem assim, mas me absorve tanto que me deixo levar sem pensar em nenhuma regra” – Carta de Vincent a seu irmão Theo, em setembro de 1888

Você pode encontrar informações práticas sobre ingressos e horários diretamente no site da Fundação.
Campos de girassol e picnic em Carry-le-Rouet
Depois de visitar a Fundação, fui de carona com recém conhecidos à reserva marinha de Carry-le-Rouet, uma praia rodeada por pedras esbranquiçadas e pontiagudas, onde o mar é de um azul intenso e as pessoas vão com snorkels e pés de pato para mergulhar.

Há outros que vão para pegar sol também ou fazer piqueniques, mas se concentram mais no início da reserva, onde há uma estrutura de cimento e areia. Recomendo levar sapatilhas aquáticas para aproveitar melhor o passeio.
No caminho, passamos por campos de girassóis, montanhas, aquedutos e outros elementos tão presentes nas imagens representadas pelo pintor pós-impressionista. É impressionante (no pun intended) como os traços dele se prendem em nossa retina, moldando as formas e os encontros luminosos que testemunhamos.
Outra ideia para ver os famosos campos de girassóis é fazer um tour a partir de Arles para visitar o asilo Saint Paul em Saint-Rémy-de-Provence, onde Van Gogh se internou em 1889, depois do surto que o levou a brigar com seu amigo Paul Gauguin e cortar sua própria orelha.
Foi da janela de seu quarto neste asilo que ele viu e pintou a famosa Noite Estrelada sobre o campo de trigo, que hoje é parte do acervo do MoMA de Nova York.