Museu Mucha: art nouveau em Praga
Eu não tinha reconhecido o nome quando a Pati sugeriu que a gente incluísse o Museu Mucha no roteiro em Praga, mas bastou ver a primeira imagem para reconhecer o estilo de suas obras :)
O artista tcheco Alfons Mucha fez dezenas de posters e cartazes em Paris na virada de 1900 e até hoje a gente encontra quadros, bolsas e todo tipo de souvenirs vintage estampados com sua arte.
Seus traços e cores combinaram perfeitamente com o estilo Art Nouveau que dominava a capital francesa naquela época!
Alfons Mucha, que estudou em Munique e começou a carreira em Viena, trabalhava numa gráfica em Paris quando foi chamado de última hora para fazer o poster da peça grega Gismonda, do Théâtre de la Renaissance, em 1894. Foi seu primeiro trabalho de destaque.
Teatro parisiense e a art nouveau
Sarah Bernhardt, a estrela do teatro e uma das maiores atrizes da Europa, ficou completamente apaixonada pelo estilo do desenho de Mucha e assinou um contrato de exclusividade com ele, que passou também a fazer suas jóias e vestidos.
Não demorou muito para o artista se tornar uma sensação entre as celebridades francesas!
O traço delicado, o protagonismo da mulher e os elementos da natureza delineados por formas geométricas se tornaram suas marcas registradas. O desenho das letras também chama a atenção, criando tipografias cheias de personalidade.
Uma de suas séries mais conhecidas, e que representa bastante sua obra, está logo na primeira sala do museu em Praga: as Quatro Estações.
As obras desse período mostram muito do modernismo europeu e da art nouveau — conversam com certos trabalhos de Gaudí em Barcelona e com a arquitetura de Paris na virada do século 20 (lembra daquela placa clássica do metrô de Paris?).
Design gráfico e a popularização da arte
Mais que um artista plástico, Mucha era um designer e seus desenhos tinham muitas aplicações comerciais. Trabalhou para muitos outros teatros, fazendo não apenas os posters, mas também cenários e figurinos.
Ilustrou cartazes publicitários de algumas das marcas mais prestigiadas da época, como o champagne Moët & Chandon, e também assinou embalagens de produtos.
Mucha não se importava com a comercialização e a popularização de suas peças, não as pretendia exclusivas e até gostava da ideia de produzir seus cartazes em massa nas gráficas, para que o custo unitário fosse reduzido e a obra de arte se tornasse acessível.
O público correspondia: os cartazes de teatro faziam tanto sucesso que as pessoas os arrancavam da parede para levar para casa. Os pôsters começaram a ocupar espaço como peça de arte dentro de casa (coisa que a gente ama hoje em dia ♥).
Também se dedicava muito às artes decorativas — criava cadeiras, biombos e outros móveis, estampas para tecidos, vitrais, louças e porcelanas, entre muitos outros projetos.
Pioneiro de muitas formas, Alfons Mucha foi também o primeiro artista a fazer merchandising: nos primeiros anos do século XX seus trabalhos estavam tão requisitados que ele lançou um manual com padrões para criação de peças decorativas em Art Nouveau, para que artesãos pudessem produzi-las.
Até hoje grandes estilistas usam manuais como esse para terem seus desenhos estampados em coleções assinadas – como Alexandre Herchcovitch para Tok&Stok, por exemplo.
A identidade eslava
Quando ele voltou a Praga, em 1910, se dedicou a pinturas ufanistas, que ajudassem a criar uma identidade do povo eslavo.
Oito anos depois, quando a Tchecoslováquia se tornou independente do Império Austro-Húngaro, Mucha foi quem desenhou selos postais, cédulas e moedas para a recém-criada república.
Tudo isso está em exibição no pequeno museu, e é bem interessante ver o papel da arte de Mucha na história do país.
Ele criou, inclusive, um dos vitrais da Catedral de São Vito, a igreja gótica que fica no Castelo de Praga. A igreja tinha começado a ser construída ainda na Idade Média mas, em meio a sucessivas guerras e pragas que assolaram a região, a obra foi interrompida e retomada diversas vezes por quase 600 anos.
Quando finalmente a Catedral pronta, já no século 20, adivinha quem estava no auge da carreira e teve a oportunidade de deixar mais essa marca na história do país? Mucha, claro.
É um vitral bastante diferente dos outros que se vê na igreja, olha como dá para reconhecer perfeitamente o estilo dele nos detalhes:
Pequenas surpresas no Museu Mucha
Continuando a visita pelo museu, uma das salas recria o ambiente de seu ateliê na Rue du Val-de-Grâce, em Paris, com móveis e objetos da época.
Como no início do século passado Paris era uma festa, muitos artistas conviviam e acabavam se tornando amigos, daí a exposição nos pega de surpresa com fotos de cenas no ateliê, algumas bem curiosas, como a de Paul Gauguin tocando harmônio sem calças — o mesmo instrumento que a gente vê no museu (parece um piano pequenininho).
Também gostei de ver as fotos que ele tirava das modelos, como estudo para as pinturas, e os desenhos que ele fazia — alguns eram parte do processo criativo para os quadros e móveis, outros eram obras de arte em si.
É uma exposição muito rica para o tamanho que tem: apenas meia dúzia de salas, rápidas de se visitar, mas que contam muitas histórias. O Museu Mucha foi uma surpresa muito boa na nossa viagem a Praga :)