Beatles em Liverpool: roteiro completo (sem tour)
Não dá para fugir deles – os Beatles são onipresentes em Liverpool. Prometo que depois dou outras dicas de o que fazer em Liverpool, mas precisamos começar por aí, pela história dos músicos e das canções que levam mais de 600 mil turistas por ano para essa cidade no noroeste da Inglaterra. Os turistas, aliás, são mais numerosos do que os moradores: Liverpool tem uns 450 mil habitantes apenas.
A viagem começa na estação Euston, em Londres, de onde partem os modernos trens da Virgin (parte do império de Richard Branson, empresário britânico cujos negócios começaram com uma gravadora e estão chegando até o ramo de viagens espaciais!). O trajeto dura um pouco mais de 2 horas.
Roteiro Beatles em Liverpool sem fazer tour
Não faltam companhias de turismo oferecendo uma Magical Mystery Tour (£ 20), mas para economizar e fazer tudo sem correria (e sem dezenas de outras pessoas competindo pelas mesmas fotos), preferi fazer o “roteiro Beatles” por conta própria.
Foi bem cansativo, porque muitos dos locais que marcaram a história de John, Paul, George e Ringo são no subúrbio, um pouco distantes um do outro. No terminal de ônibus Liverpool ONE, no centro, há um guichê de informações turísticas (onde você pode conseguir mapas) e linhas para todos os cantos da cidade.
Uma alternativa é fazer os trajetos fora do centro de bicicleta – você pode ver a City Bike Liverpool e a Bike & Go. Para quem está viajando em grupo de 4 ou 5 pessoas, pode valer a pena fazer um tour privado, que é menos corrido que o ônibus.
Os “Beatles spots” mais distantes são também os mais legais, porque dão realmente a sensação de estar presenciando trechos da vida dos quatro garotos de Liverpool.
Penny Lane (in my ears and in my eyes)
A primeira parada foi Penny Lane (ônibus 75, 80, 86). Maior parte dos turistas vai ver uma placa em uma extremidade da rua que é bem residencial (este é o ponto que aparece no Google Maps quando você procura Penny Lane).
Eu fui à outra ponta da rua, a alguns quarteirões dali, e gostei porque foi lá que encontrei um barber shop e um banco, tal como a letra da música. Ainda dei sorte de pegar o céu azul prometido nos versos!
Uma caminhada leva à escola primária na Dovedale Road, onde estudaram os pequenos John e George (desvio totalmente opcional no roteiro, é uma escolinha normal, nada demais).
Em frente ao Tesco, você pode pegar o ônibus 76 para seguir pela Menlove Avenue até a altura da Vale Road. John Lennon cresceu na casa de nº 251 da Menlove Avenue, conhecida como Mendips (e que é retratada no filme O Garoto de Liverpool). Falo sobre a casa um pouco adiante.
Strawberry Field: portão vermelho
Voltando essa mesma avenida, chega-se à subida da Beaconsfield Road, endereço do antigo orfanato Strawberry Field (na música, acrescentou-se um “s” em Fields). Era uma construção vitoriana com um belo jardim, onde eram realizados festivais frequentados por John e sua tia Mimi.
À noite, John e seus amigos invadiam os jardins para ficar lá de bobeira. Não dá para entrar, tudo o que a gente consegue ver é o portão vermelho e um violão entre as plantas. Mesmo assim, é um cenário emocionante.
Steve Turner, autor do livro Beatles: a história por trás de todas as canções, diz que as visitas de John Lennon a Strawberry Fields “eram como as fugas de Alice pela toca do coelho”.
A igreja de Eleanor Rigby
Então é hora de encarar quase 20 minutos de caminhada até a St. Peter’s Church, onde Lennon e McCartney se conheceram, em 1957. Pegue a Quarry Street (lembra que a primeira banda de John Lennon se chamava The Quarrymen?), esquerda na Linkstor Road, direita na Church Road.
No cemintério anexo à igreja está a lápide de Eleanor Rigby – mas, ao que tudo indica, não era ela quem catava os grãos de arroz do casamento.
Parece que a música originalmente se chamava Miss Daisy Hawkins, mas aí Paul foi trocando os nomes até chegar na sonoridade ideal para a melodia… E, por coincidência (ou nem tanto), acabou batizando a solitária Eleanor com um nome de uma moradora de Liverpool.
Quer dizer, a lápide no cemitério de Liverpool não foi inspiração direta para Paul, mas Steve Turner argumenta que a escolha do nome Eleanor Rigby pode ter soado natural por já tê-lo visto antes.
Na Stanley Street, no centro de Liverpool (perto do Cavern Club), você encontra a estátua de Eleanor Rigby – essa, sim, representa a personagem e “all the lonely people”. Neste banquinho, volta e meia aparece alguém para lhe fazer companhia.
Casas de Paul McCartney e John Lennon
A casa dos McCartneys fica no nº 20 da Forthlin Road, perto da West Allerton Station, mas eu não tive tempo para visitá-la porque fica meio isolada destes outros pontos do roteiro que eu fiz. E quem simplesmente aparece lá na frente não pode entrar para visitar, é preciso fazer reserva online.
A mesma regra vale para Mendips, a casa onde John Lennon morava com sua tia Mimi. Você pode passar lá (nº 251 da Menlove Avenue) a caminho de Strawberry Field, mas se quiser conhecer por dentro, também tem que se programar.
As duas casas são patrimônio nacional do Reino Unido e só podem ser visitadas com o tour oficial do UK National Trust (£ 30). Eles fazem 3 tours por dia (às 10h, 11h e 14h), com vans partindo do hotel Jurys Inn, no Albert Dock, e visitam as duas casas num passeio de 2h30 de duração.
Cuidado para não se confundir e comprar o tour que sai de Speke Hall, que é 40 min ao sul do centro da cidade, perto do Liverpool John Lennon Airport (ônibus 500, 80A, 82A, 86A) – o aeroporto da cidade recebeu o nome e uma estátua do músico em 2001 ;)
No centro, Mathew Street e o Cavern Club
De volta ao centro da cidade, os “Beatles spots” se multiplicam como Gremelins. Todo mundo quer tirar uma casquinha da fama dos Fab4 e são tantas lojas de souvenir que você até enjoa.
O Cavern Club, na Mathew Street, fez fama como um dos primeiros palcos dos Beatles. Bem em frente a ele há uma “wall of fame” com o nome das diversas bandas que tocaram lá e uma simpática estátua do jovem Lennon.
Apenas os fãs muito dedicados chegam a visitar o Casbah Club, menos conhecido e a uns 6 km do centro (ônibus 12 ou 13), que foi onde eles realmente fizeram o primeiro show, ainda com a banda The Quarrymen.
No mesmo quarteirão da Mathew Street, o shopping center The Cavern Walks exibe uma estátua de bronze dos Beatles tocando (aproveite e veja a loja Vivienne Westwood, da estilista que criou a estética punk).
Seguindo adiante na mesma rua, peça um pint de cerveja no Grapes Pub, onde os caras iam beber depois dos shows. O White Star Pub, na transversal Rainford Gardens, também era frequentado por eles.
Beatles Story: museu interativo
Já na região do Albert Dock, reserve algumas horas para o Beatles Story (£ 16), um museu que narra toda a trajetória da banda, com a devida contextualização histórica e cultural. Existem alguns outros museus dos Beatles em Liverpool (a maior parte é coletânea de memorabilia), mas o Beatles Story é o principal.
É super interessante entender as influências musicais das diversas fases e ver a evolução dos Beatles. Cada parte do museu é um cenário que marcou a trajetória da banda – tem até a capa do Sgt. Pepper’s com os personagens em escala real!
É uma verdadeira imersão no universo dos Beatles! A exposição termina lindamente com o piano branco do clipe de Imagine.
O ingresso do Bealtes Story dá acesso também ao Pier Head, um pequeno prédio perto dali, onde tive o prazer de ver uma exposição fantástica das fotos de bastidores da banda. Lá você também pode assistir a uma sessão do “Fab4D”, um filmezinho de animação 4D.
Novas atrações dos Beatles em Liverpool
Em dezembro de 2015, 50 anos depois do último show deles em Liverpool, a região do Pier Head ganhou ainda mais um grande monumento para a alegria dos fãs: uma estátua de Paul, Ringo, George e John, juntos, caminhando em direção ao rio Mersey.
A cena aconteceu de verdade, e o escultor Andy Edwards usou uma foto dos anos 60 como ponto de partida :)
Outro novo ponto que anda competindo por um espacinho no “roteiro Beatles” é o Yellow Sub, que já funcionou como um hotel-casa-barco e, em 2019, foi transformado em bar num distrito moderninho chamado Cains Brewery. A decoração é totalmente inspirada no visual do filme Yellow Submarine!
Onde ficar em Liverpool
Se o orçamento permitir e você ainda não estiver cansado da cara dos quatro, que tal se hospedar em um dos 110 quartos do Hard Day’s Night Hotel? A decoração é toda temática (evidentemente) e o preço fica em torno de £ 80 a £ 100 pelo quarto duplo.
Duas ótimas opções na região do centro com bom custo-benefício são o Days Inn e o Tune Hotel.
Eu me hospedei na região do Albert Dock, no Premier Inn, de cara para o Beatles Story! Tem vários hoteis legais nessa área: o Jurys Inn, o Holiday Inn e o Ibis, além do estiloso Staybridge e o hostel YHA Albert Dock.
Gosto muito de como esses hotéis são modernos por dentro, com o jeitinho dos prédios de tijolo por fora. Vale a pena ver os preços pois às vezes dá para encontrar boas ofertas!
Roteiro Beatles em Londres
Para completar a viagem, em Londres também tem dois lugares imperdíveis para os beatlemaníacos. O primeiro é o prédio da Apple Records (3 Savile Row, próximo à Regents Street), em que eles fizeram o lendário show no terraço em 1969.
O segundo é a faixa de pedestres em frente ao estúdio da Abbey Road (a estação de metrô mais próxima é St John’s Wood, mas tem que andar um bocado ainda).
Muito embora o visual não veja o mesmo hoje em dia, já que rua é super movimentada e cheia de turistas pra lá e pra cá tentando tirar uma foto que lembre a capa do disco.
Aliás, se você gosta dessas coisas, não deixe de ver o post sobre lugares de Londres imortalizados em capas de grandes álbuns do rock ;)
Mapa das atrações em Liverpool
Ficou surpreso com quanta coisa legal tem para ver e fazer em Liverpool? Montei um mapa com os locais citados nas dicas para facilitar a navegação pela cidade. Os pins vermelhos são os pontos do roteiro Beatles e os pins amarelos são os demais pontos turísticos e dicas culturais ;)
Para ir entrando no clima da viagem, vale a pena assistir o filme O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy), baseado no livro Imagine This: Growing Up With My Brother John Lennon.