O que fazer em Liverpool: dicas incríveis para sair do óbvio!
Liverpool foi um dos primeiros lugares sobre os quais eu quis escrever aqui no blog. Eu amei conhecer e desvendar o roteiro Beatles por conta própria (sem pegar o ônibus do Magical Mistery Tour)! Mas tem muito mais coisas para ver e fazer em Liverpool e eu tinha prometido dar outras dicas da cidade também. Recentemente minha família viajou para lá e atualizei minhas dicas para finalmente cumprir a promessa!
Para além dos Beatles e dos incontáveis pubs, Liverpool tem museus interessantíssimos, belas atrações turísticas e grande herança da indústria marítima. É um daqueles lugares que costumam ser injustiçados nos roteiros de viagem: a maior parte dos viajantes passa 1 ou 2 dias somente, e não aproveita nem metade do que a cidade tem para oferecer.
Liverpool se transformou muito ao longo dos anos 2000, investindo ativamente em seu patrimônio cultural. Vários novos museus foram criados, quase todos com exposições multimídia muito agradáveis de se ver e entrada grátis. Descubra quais os programas você não quer deixar de fora e tente curtir cada experiência sem pressa :)
A arquitetura de Liverpool Waterfront
Essa região da esplanada em frente ao rio Mersey, chamada de Waterfront ou Pier Head, reúne algumas das construções mais bonitas de Liverpool. A começar pelas Three Graces, que são três prédios comerciais do início do século 20 que transformaram o visual da cidade.
O primeiro é o Royal Liver Building, que tem suas torres decoradas pelos Liver Birds, pássaros que são símbolo da cidade (um é virado para o rio, e outro para a terra). Com 98 metros de altura, foi considerado o primeiro arranha-céu da Europa. Em 2019, abriu sua torre para visitantes, oferecendo a vista do rio Mersey como recompensa para quem encara os 124 degraus em espiral.
O segundo é o Cunard Building, que tem influência da arquitetura italiana e, em 2017, passou a abrigar o British Music Experience, um dos museus mais legais que já fui e sobre o qual falarei no outro tópico!
O terceiro é o Port of Liverpool Building, de estilo barroco eduardiano, famoso por sua cúpula que parece de igreja. De fato, tinha sido originalmente projetada para uma catedral, mas acabou indo parar no projeto deste prédio… rs!
Monumentos no Pier Head
É nesta área do Pier Head que fica a estátua dos Beatles (ops, esse era o artigo em que eu não ia falar deles, né?). E também fica ali o Memorial aos Heróis da Casa das Máquinas do Titanic, dedicado aos 244 mecânicos que perderam suas vidas no desastre enquanto tentavam manter o navio resistindo durante o maior tempo possível.
O memorial é significativo tanto porque Liverpool é a cidade sede da empresa que construiu o navio (embora ele tenha começado sua viagem do porto de Southampton) quanto pelo fato de ter sido o primeiro monumento do Reino Unido a representar a classe trabalhadora, algo bastante representativo da história industrial da cidade.
British Music Experience (adoro!)
O British Music Experience é um museu interativo que surgiu em Londres em 2009, mas se mudou para Liverpool em 2017. Eu visitei a primeira montagem da exposição e me diverti muito! As galerias multimídia contam a história do pop e do rock britânico desde a década de 40 – passando por Pink Floyd, The Smiths, Eric Clapton, Sex Pistols, Oasis, Amy Winehouse e quem mais você puder imaginar.
Cada uma das grandes fases da música britânica tem uma sala com objetos históricos, vídeos e infográficos em grandes telas, além de músicas para você escutar, dançar e tocar (tem um estúdio da Gibson com guitarras e baterias)! Mais que a evolução da música ao longo do tempo, a gente também vê como cada movimento refletiu a política, a moda, a arte e o comportamento de sua época. Realmente uma exposição super divertida de se visitar :)
Se a história dos Beatles já não fosse suficiente, o British Music Experience era o empurrãozinho que faltava para os fãs de rock incluírem Liverpool no roteiro de viagem pelo Reino Unido.
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O moderníssimo Museu de Liverpool
Ainda na região do Pier Head, tem mais um prédio que chama a atenção – este, pelas linhas retas da arquitetura moderna dinamarquesa. É o novo prédio do Museum of Liverpool, inaugurado em 2011. A exposição também é muito bem montada, combinando peças arqueológicas, fotografia, vídeos, cenários e objetos históricos para mostrar o desenvolvimento social e urbano de um jeito rico e interessante.
A entrada é grátis, então vale ao menos dar um pulo para conhecer um pouco da história da cidade desde as atividades industriais e marítimas até sua crescente importância cultural e nos esportes – especialmente o futebol, claro. As galerias também incluem grandes eventos históricos que marcaram Liverpool, como a Revolução Industrial, a expansão do Império Britânico e as duas grandes guerras mundiais.
Pela localização privilegiada na Waterfront, o Museu de Liverpool tem uma vista bem bonita das Three Graces :) Na entrada do museu, você também encontra informações sobre as trilhas temáticas que pode fazer lá dentro: Comunidade Negra, Comunidade Irlandesa, Comunidade Judaica e Para Crianças.
Porto de Liverpool: museus históricos
O porto de Liverpool é a parte da cidade que mais representa sua forte história industrial. A foz do rio Mersey dava acesso às movimentadas rotas de navegação do Mar da Irlanda, e isso fez com que Liverpool se tornasse um ponto estratégico para Inglaterra ao longo dos séculos – tanto para o comércio quanto para a atuação militar do Império Britânico. O Museu Marítimo de Merseyside conta essa história, além de mostrar como é a vida a bordo dos navios e ter uma exposição especial sobre o Titanic.
Junto com o desenvolvimento marítimo, vinha a inovação industrial, os armazéns e casas comerciais, as agências de navegação etc. e grande parte dessa tradição se vê ainda hoje na arquitetura da cidade. Muitas obras de infraestrutura e até mesmo os edifícios culturais foram financiados pelas atividades navais.
Pelas atividades comerciais no porto, Liverpool também testemunhou por séculos o tráfego de escravos. Em 2007, a cidade inaugurou o International Slavery Museum, um museu emocionante que aborda o tema da escravidão no mundo, seus contextos históricos e impactos sociais, além de debater importantes questões contemporâneas dos direitos humanos. Funciona no 3º andar do mesmo prédio do Museu Marítimo e também tem entrada grátis.
Outra forma de ver o porto é a bordo dos Mersey Ferries. O passeio de barco dura 50 minutos (com aquela narração turística) e oferece uma belíssima vista do complexo arquitetônico da Waterfront.
Albert Dock e a roda gigante
Quando você chegar no Museu Marítimo, já estará na área do Albert Dock, reconhecida pelos prédios de tijolinhos. Quase 2 séculos atrás, a construção do Albert Dock representou uma grande evolução: foi a primeira construção britânica com estrutura de tijolos, pedra e ferro fundido em vez de vigas de madeira. Isso significava muito menos risco de incêndio para os navios e mercadorias no cais do porto.
Contou também com outras inovações que reduziram o tempo de descarregar os navios pela metade, o que aumentou muito a competitividade do porto de Liverpool. Um dos destaques eram os “bolsões” que permitiam que os barcos se aproximassem das docas e descarregassem as mercadorias diretamente nos galpões, além dos guindastes hidráulicos, que ajudavam no transporte das cargas mais pesadas.
Por ser um ponto estratégico para a logística britânica, o Albert Dock foi um dos alvos de bombardeio dos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, e sofreu danos severos. A chegada de navios a vapor ainda maiores e o declínio da atividade marítima no século 20 levaram o Albert Dock a ser desativado de vez em 1972.
Até que, nos anos 80, um processo de revitalização devolveu a vida ao local, começando a transformar o Albert Dock na área cultural que é hoje, com museus e restaurantes. Além do Museu Marítimo, também ficam ali a Tate Liverpool e The Beatles Story (que, na minha opinião, é o melhor museu dos Beatles na cidade).
Para ver toda a região do píer e do rio Mersey do alto, uma opção legal é dar uma volta na roda-gigante Wheel of Liverpool, que tem 60 metros de altura! O passeio leva cerca de 12 minutos (são 4 voltas completas).
Tate Liverpool: arte moderna
Um dos museus mais fantásticos de Londres tem uma filial em Liverpool! A inauguração da Tate Liverpool foi um dos marcos da revitalização do Albert Dock nos anos 80, e eu adoro o contraste dos tijolos com os letreiros coloridos e as colunas pintadas de laranja!
A coleção do museu é muito interessante e inclui obras de grandes nomes da arte moderna: Andy Warhol, Juan Miró, Picasso, Frank Stella, Salvador Dalí, Mondrian, Matisse… Algumas obras da Tate Collection se alternam entre a Tate Liverpool e a Tate Modern, de Londres. É um acervo de altíssimo nível e com entrada gratuita!
O museu também recebe exposições temporárias maravilhosas (essas podem ter ingresso pago), vale muito a pena ver o que está em cartaz no período da sua viagem.
Se quiser mergulhar ainda mais no lado cultural de Liverpool, anote aí mais três dicas de ouro: Open Eye Gallery (fotografia contemporânea), FACT (arte digital e tecnologia) e The Bluecoat (arte contemporânea e performances, num prédio histórico). Todos com entrada grátis também!
A gigantesca Catedral de Liverpool
A Catedral de Liverpool impressiona pelo tamanho: são 189 metros de comprimento (é a igreja mais longa do mundo!) e 101 metros de altura. É a maior catedral do Reino Unido e uma das maiores do mundo! Foi projetada por Sir Giles Gilbert Scott, mesmo arquiteto que criou as famosas cabines telefônicas inglesas.
Tem o estilo neogótico britânico, que tem torres “menos pontudas” e decoração menos ornamentada que o neogótico da França ou da Bélgica, por exemplo. Nem por isso a gente deixa de perder o fôlego quando vê o lado de dentro – se a grandeza, por si só, já não fosse hipnotizante, tem os vitrais riquíssimos e igualmente gigantescos!
A entrada na igreja é gratuita. O ingresso é pago apenas para subir a torre, de onde se tem uma vista completa da cidade! A subida é de elevador até certo ponto, e depois mais 108 degraus.
Chinatown, Georgian Quarter e Universidade de Liverpool
A partir da Catedral, há algumas opções para conhecer bairros interessantes de Liverpool. A começar por uma passadinha pela Chinatown de Liverpool, que foi o primeiro bairro chinês da Europa e tem o maior arco fora da China, com mais de 13 metros de altura. Depois, vale dar uma volta pelo Georgian Quarter – os quarteirões entre Hope Street e a Rodney Street são cheios de casinhas de arquitetura georgiana típica. Fique de olho nos bares e restaurantes charmosos da região e aproveite para ver a sede da Filarmônica de Liverpool, que é ali perto.
Seguindo em direção ao norte, você passará por um bairro bastante cultural, cheio de teatros e prédios da Universidade de Liverpool, até chegar na Victoria Gallery & Museums. O museu, que chama a atenção pelo prédio gótico, registra a história da Universidade e mostra alguns de seus curiosos objetos de pesquisa (muita coisa de ciências naturais), além de exposições temporárias.
Walker Art Gallery e World Museum
Liverpool foi eleita a Capital Europeia da Cultura em 2008 e não foi à toa. Já percebeu quantos museus a cidade tem, né? Pertinho da estação de trem Lime Street, tem mais dois, ambos gratuitos. Um deles é o World Museum, que é um museu de história natural – que inclui artefatos da antiguidade, zoologia etc. além de boas exposições temporárias sobre temas diversos como fotografia astronômica ou Egito Antigo.
Outro é a Walker Art Gallery, que tem pinturas, esculturas e artes decorativas desde o século 13 até os dias atuais. O acervo tem os nomes famosíssimos de outros museus da Europa, mas uma coisa interessante é a oportunidade de conhecer movimentos artísticos britânicos que são pouco explorados em outros lugares – como as pinturas Vitorianas e o movimento Pré-Rafaelita.
Se você se apaixonar por esse tipo de arte e quiser ver ainda mais, a galeria Lady Lever também tem um acervo rico e fica numa linda mansão com jardim, mas é menos visitada por ser do outro lado do rio Mersey (pegue o trem para Bebington na estação Liverpool Lime Street). A entrada também é grátis, veja as exposições temporárias em cartaz!
Anfield: o estádio do Liverpool F.C.
Quem é fã de futebol vai querer reservar um tempinho no roteiro para conhecer o Anfield, estádio do Liverpool FC, um dos grandes times europeus. No tour de 80 minutos, você passa pela sala de imprensa, pelos vestiários e pelo gramado – você entra em campo pelo corredor dos jogadores, que tem a famosa placa “This is Anfield”. Depois, pode visitar o museu no seu tempo, para conhecer a história do time e ver de perto os troféus (incluindo as 6 taças da Champions League!)
Tem outras opções de tours, incluindo a possibilidade de conhecer um jogador! O estádio fica a 5 km do centro turístico da cidade, mas tem um ônibus direto que parte da Gower Street (Albert Dock) de hora em hora, das 10h às 15h.
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Liverpool One: compras e pubs em Liverpool
Construído sobre as ruínas da primeira doca que a cidade já teve, o shopping Liverpool ONE se tornou um ponto de referência, com diversas lojas e restaurantes. As ruas dos arredores também são cheias de vitrines interessantes, cafés, bares e pessoas de todos os estilos, como a Paradise Street.
Uma opção interessante para comer por essa região é o Duke Street Market (46 Duke Street), que abre às 8h30 para brunch e fica aberto até as 23h, diariamente. À noitinha, outra opção legal é o Kazimier Garden (32 Seel Street), que tem um estilo rústico bem charmoso.
Quem tem interesse em quer fazer compras também pode considerar uma ida até o Cheshire Oaks Designer Outlet, um dos maiores shoppings outlets da Inglaterra, a cerca de 1h do centro (pegue o ônibus X8 na esquina da Whitechapel com a Sir Thomas Street).
Baltic Triangle: o distrito alternativo
Baltic Triangle era um distrito industrial, que nos últimos anos vem crescendo e se transformando, com muitos bares da cena independente e diversas empresas digitais e criativas. Se quiser explorar esta área, vale chegar à tarde para ver a galeria de arte independente The Gallery Liverpool (somente das 12h às 16h), e lojinhas vintage do Red Brick Market (10h às 18h).
Depois, escolha um dos muitos bares do Baltic Market e da Cains Brewery Village, duas antigas fábricas convertidas em centros gastronômicos alternativos. Ou, melhor ainda: vá pulando de bar em bar ao longo da noite! Se estiver procurando uma festa, veja os eventos e shows do Constellations e do Camp & Furnace, que também era um antigo armazém, ou tente uma noite diferente no Ghetto Golf, que é um espaço de mini golfe todo grafitado com drinks e DJ.
A região fica mais animada de quinta a domingo (domingos à tarde costuma ter feirinha também). Os horários de cada empreendimento do Baltic Triangle podem variar bastante. Se você quiser visitar alguma coisa em especial, confira o horário de funcionamento. Para chegar, pegue o ônibus 27 da Liverpool One até Dexter Street ou vá a pé pela Park Lane e então Jamaica Street (são uns 20 min).
Onde ficar em Liverpool
Eu me hospedei na região do Albert Dock e gostei muito da atmosfera! Tem vários hoteis legais nessa área: o Jurys Inn, o Holiday Inn e o Ibis, além do estiloso Staybridge e o hostel YHA Albert Dock. Gosto muito de como esses hotéis são modernos por dentro, com o jeitinho dos prédios de tijolo por fora. Vale a pena ver os preços pois às vezes dá para encontrar boas ofertas!
Mais para o centro, duas opções com bom custo-benefício são o Days Inn e o Tune Hotel, além do famoso Hard Day’s Night Hotel, que tem decoração temática e faz sucesso entre os fãs dos Beatles.
Mapa das atrações de Liverpool
Ficou surpreso com quanta coisa legal tem para ver e fazer em Liverpool? Montei um mapa com os locais citados nas dicas para facilitar a navegação pela cidade. Os pins vermelhos são os pontos do roteiro Beatles e os pins amarelos são os demais pontos turísticos e dicas culturais ;)