Vinhos artesanais na Bulgária, a caminho do Mosteiro de Rila
Esqueça Itália, França, Califórnia. A capital mundial do vinho hoje há de ser a Bulgária.
Logo em nossa primeira noite em Sófia, fomos ao acolhedor restaurante Hadjidraganov, onde fomos tratados como locais, comemos o que sempre imaginei ser um tipiquíssimo manjar búlgaro e, melhor, provei do potente Mavrud – o vinho nacional.
Mavrud: o vinho da Bulgária
Assim como lanchonetes e cafés de rede devem ser evitados em viagens, também varietais como Cabernet e Merlot. Não se trata de um nacionalismo xiita: cabs e merlots podem ser provados nos três outros destinos citados acima e também por aqui, enquanto que os vinhos da uva Mavrud só poderão ser provados na própria Bulgária.
Com seu tinto generoso, profundo e aromático, próprio para sabores fortes e climas frios, a Mavrud logo encontrou um espaço aqui debaixo do ventrículo esquerdo. Mas o melhor, não em termos de paladar mas de experiências, estava ainda por vir.
Vinícolas a caminho de Rila
A caminho do Monastério de Rila, um dos maiores tesouros culturais dos Bálcãs e ícone da Igreja Ortodoxa búlgara, no alto de seus 1.100 metros, passamos por diversas cidades.
A última é Rila mesmo, ainda um pouco distante do mosteiro, em que vislumbramos muitas vinícolas. Aquilo ali num outono deve roçar ombros com a paisagem piemontesa ou toscana.
Chegando ao único restaurante aberto já próximo ao mosteiro, haveríamos forçosamente de provar o vinho local, ainda mais se o prato era a truta do rio gelado. Fizemos, com a satisfação de saber que o vinho, produzido artesanalmente, fora feito pelo dono do restaurante.
Mosteiro de Rila, na Bulgária
Como estávamos em dia de semana no ápice do inverno, tínhamos todo o gélido mosteiro para nós. Símbolo da renascença búlgara, bastião da eslavicidade em meio à ameça e ao domínio turco, uma glória artística para quem ama afrescos.
Só o Mosteiro de Rila paga toda a viagem.
Patrimônio da humanidade nas montanhas búlgaras, o Mosteiro foi fundado por São João de Rila no século 10 e reconstruído na primeira metade do século 19 depois de um incêndio. As pinturas, portanto, não são assim tão vetustas, o que pouco importa.
Repetirei Rila a cada volta à Bulgária. Dos santos no teto ao mural do inferno, é tanta coisa para fotografar!
E fotografamos também a estreita saída da caverna onde São João morou. Reza a lenda que só não fica entalado aquele que é livre de pecados. Passei fácil :)
Vinho verdadeiramente artesanal
Antes que a viagem se encerrasse, já a caminho do aeroporto, descobrimos que nosso taxista Boris sabe que Dilma tem raízes búlgaras, orgulha-se de sua origem trácia, coleciona avidamente cédulas do mundo inteiro (sempre as três de menor valor; dei-lhe notas de 2 e 5 reais) e, last but not least, é também vinicultor!
Fez questão de presentear-nos com uma amostra de sua criação, que transporta no porta-malas…. E a vida, assim, se nos afeiçoa…