Red October: a fábrica de chocolate que virou hub cultural em Moscou
Desativada desde 2007, a antiga fábrica de chocolate Red October, em Moscou, viu seus galpões darem espaço a estúdios de design, produtoras de cinema, galerias de arte e lojas bacanas.
Se transformou em um ponto de referência para a indústria cultural da Rússia e serviu de inspiração para iniciativas similares pelo mundo – inclusive a revitalização da fábrica Bhering, no Rio de Janeiro.
Quem me deu a dica foi o Gustavo, da agência Tchayka, que morou por muitos anos em Moscou e é completamente apaixonado pela cultura russa :)
Como a minha programação na Rússia estava corrida, fui à Red October no único tempo que tinha, de manhã, mas o ideal é visitar à tardinha ou à noite, para curtir os bares e baladas.
A fábrica de chocolate
A história dessa fábrica de chocolate é, no mínimo, curiosa. Antes propriedade de um alemão que fornecia chocolates finos para os Czares russos, a Red October ganhou esse nome quando foi estatizada, após a revolução soviética.
Durante a Segunda Guerra, a fábrica chegou a produzir chocolate com cafeína (e rolam boatos que até com metanfetamina) para enviar aos soldados russos e mantê-los cheios de energia!
O produto mais famoso de toda a história da Red October são os chocolates Alenka, que existem até hoje (agora produzidos numa fábrica mais afastada do centro) e mantêm a embalagem no mesmo estilo do período soviético, com o desenho de uma neném com um lenço amarrado.
É um verdadeiro ícone da época, virou um daqueles produtos vintage, que todo mundo tem memória afetiva :)
Street art em Moscou
O que mais chama atenção de quem anda por entre os prédios de tijolos vermelhos são os graffitis. É uma das poucas áreas de Moscou em que um viajante encontra arte urbana com certa escala.
Boa parte dos murais foram feitos durante o “Artside Street Art Moscow Festival”, que a fábrica sediou em setembro de 2014.
Gostei muito de conhecer artistas russos como Nootk, que tem um estilo meio cartoon bem característico (logo reconheci que já tinha visto uns grafites dele em São Petersburgo!).
Também curti os murais do Alexey Kio e do coletivo Siberianberry, que usam geometria de cores fortes… E do 310 Squad, que se inspira na pop art para criar efeitos de história em quadrinhos vintage, estilo Roy Lichtenstein ♥
Uma estudante de arte russa que eu conheci uns dias antes tinha comentado que a arte de rua na Rússia é intelectualizada, retrata escritores e filósofos, faz referência a obras primas da história da arte…
Ao menos um dos murais da Red October está lá para comprovar: Grino colocou lado a lado Nikolay Gogol, Anton Chekhov, Dostoyevsky e Tolstoy. E durante os meses de tempo quente tem mesinhas ao lado deles para tomar um drink :)
Centro de Fotografia Irmãos Lumière
A maior surpresa da minha visita à Red October foi o Centro de Fotografia Irmãos Lumière. Um programão que ficou ainda melhor com a exposição que estava em cartaz na época da minha viagem: um projeto do fotógrafo Sandro Miller, que capturou imagens de John Malkovich caracterizado como mil personagens do mundo pop (ou simplesmente sendo o personagem que ele é).
O resultado é uma coleção sensacional, quase um quiz de momentos marcantes da música e do cinema. A cada foto, uma surpresa – de Einstein a John Lennon, passando por Salvador Dalí, Hamlet e o Coringa do Batman! :)
Além da galeria, o Centro de Fotografia Irmãos Lumière tem uma livraria e um café bastante simpático para tomar um café com bolo.
Tire proveito da opção “Ver Tradução” nos posts Facebook e dê uma olhada na página oficial para saber mais sobre as exposições em cartaz quando você estiver em Moscou.
A programação tende a ser bem interessante, porque a Red October é um ponto de encontro para profissionais e estudantes de design e artes visuais.
Além do Centro de Fotografia, na antiga fábrica também ficam o Strelka Institute e Digital October – todos três promovem palestras, conferências e exibição de filmes para falar sobre design, tecnologia e arte.
É mais difícil um viajante aproveitar essa parte por causa do idioma, mas às vezes eles recebem convidados internacionais, então se você tem interesse, vale ao menos espiar a agenda.
Como chegar (e sobre andar de Uber na Rússia)
Se em outras capitais do mundo os espaços criativos costumam surgir em bairros do subúrbio, é curioso ver que a Red October não fica muito longe do Kremlin – uma localização surpreendentemente privilegiada inclusive para ter sido uma fábrica.
Fica em uma ilha no meio do Rio Moscou, a 15 minutos da estação de metrô Kropotkinskaya, bem perto ao Monumento a Pedro, o Grande e com uma vista linda para a Catedral de Cristo Salvador.
Se a Galeria Tretyakov está nos seus planos de viagem, dá para combinar a Red October no mesmo dia. Ou então dá para começar o dia no Kremlin e depois emendar a Red October à tarde.
Eu estava perto da Praça Vermelha e achei que valeu a pena pegar um Uber: a corrida até a Red October custou o equivalente a R$ 9.
O Uber funciona na Rússia, tanto em Moscou quanto em São Petersburgo, com a vantagem de não exigir nenhum diálogo em russo com o motorista, basta inserir o endereço no app.
Pode procurar “Krasny Oktyabr”, que é o nome da fábrica em russo, ou “Lumiere Brothers Center for Photography”, que também é fácil de encontrar).
Se você não tiver um chip 3G, pode procurar uma lanchonete Tepemok para usar o wifi gratuito. A única coisa que você não pode esquecer é de liberar o cartão de crédito para uso internacional antes da viagem, para garantir o pagamento do Uber.