7 lendas medievais de Praga (e 1 da Segunda Guerra)
A história de Praga está em cada passo que a gente dá na cidade. Das pedras que pavimentam as ruas às igrejas e casas que parecem ter parado no tempo, tudo faz a gente se sentir num cenário de conto medieval.
Voltamos de viagem com um livro que serviu de guia e de souvenir dessa cidade que tem tantas histórias pra contar: 77 Prague Legends. O passado fascinante da capital tcheca se mistura com folclore nas lendas misteriosas contadas no livro. Vem com a gente desvendar 7 dessas lendas de Praga e conhecer os lugares reais onde elas se passam:
1. A lenda do Relógio Astronômico
Dizem que cegaram o mestre que criou relógio astronômico de Praga para que ele não construísse outro tão belo para nenhuma outra cidade da Europa. Até aí, outras cidades têm lendas parecidas (dizem o mesmo sobre o relógio de Veneza na Piazza San Marco, por exemplo). O que o vereador malvado de Praga não contava era que o mestre se mataria nas engrenagens do relógio, deixando sua obra prima quebrada por mais de um século sem outro relojoeiro que fosse capaz de consertar.
Aproveite que esse é uma das poucas torres medievais da Europa que passaram a ter elevador e suba para ver a maquinaria em funcionamento há mais de 600 anos e para curtir a vista da cidade lá de cima.
2. A lenda dos 27 cavaleiros
Na praça principal do centro histórico, tem um prédio fininho, vermelho escuro, que fica ao lado da torre do relógio. Em frente a ele, você vai encontrar 27 cruzes brancas desenhadas no chão. Elas são um tributo aos 27 nobres do antigo Reino da Bohemia que foram decapitados ali depois de se rebelarem contra o imperador austríaco Ferdinand II. Reza a lenda que todo ano, no dia 21 de junho (que foi a data da execução), os fantasmas dos 27 nobres se reúnem na torre para conferir se o relógio astronômico está funcionando direitinho e se as terras tchecas estão prosperando :)
3. A lenda da Cidade Nova
Outra história conta que o Rei Charles IV (o mesmo que mandou construir a Ponte Carlos), resolveu criar a região de New Town quando um astrônomo da corte anunciou a previsão de que a parte antiga da cidade seria destruída por um incêndio.
O rei fez questão de supervisionar toda a obra e, um dia, quando percebeu que os operários haviam aberto uma rua que não estava aprovado no projeto, ficou injuriado e mandou nomeá-la de Nekázanka – “a rua da desordem” – para que ficasse eternamente registrado de que ele não a havia mandado construir. A Nekázanka fica no quarteirão de trás do Museu Mucha, para quem quiser aproveitar a visita!
4. As lendas da Ponte Carlos
O Rei Carlos IV era realmente supersticioso e ouviu o astrônomo da corte também quando mandou construir a famosíssima Ponte Carlos (até hoje o maior cartão postal de Praga). Os astros indicaram que o momento mais auspicioso para começar a obra seria no ano de 1357, no dia 9 de Julho, às 5:31 da manhã. Repare que essa data é um palíndromo (fica igual de trás para frente): 135797531. Só pode ser sinal de sorte :D
Duas outras pontes já haviam sido destruídas por enchentes, então o rei queria muito que a construção desta terceira desse certo. Foi então que o responsável pela obra (que também fez a Catedral de São Vito) resolveu inovar e colocar ovos, vinho e leite para “dar liga” entre as pedras da construção. Parece que deu certo! Mas as histórias dessa ponte não param por aí…
5. A lenda da Sinagoga Velha-Nova
Dizem que quando o bairro judeu começou a se formar em Praga, houve muita discussão para decidir onde e como construiriam uma nova sinagoga – havia apenas uma, que mais tarde foi demolida e substituída pela linda Sinagoga Espanhola. Até que um velho sábio profetizou que bastava eles escavarem uma tal colina e todas as questões seriam resolvidas. Os judeus então começaram a escavar e – surpresa! – encontraram uma sinagoga inteirinha construída com pedras de Jerusalém. Daí o nome engraçado “Old New Synagogue”, a sinagoga que é nova e velha ao mesmo tempo! O.o
Uma versão mais realista da história explica que a construção foi feita com pedras trazidas de Jerusalém sob a condição de que elas seriam devolvidas quando o Messias chegasse, e que o nome verdadeiro não era “Alt-nay” (velho-novo em Yiddish) mas sim “Al tnay” (sob condição).
6. A lenda do Golem de Praga
A mesma Sinagoga Velha Nova também foi cenário de outro conto curioso. O rabino Loew teria moldado um Golem de barro, maior e mais forte que um homem, para proteger e ajudar a comunidade judaica. Era uma criatura obediente, até que numa sexta-feira o gigante ficou descontrolado e começou a destruir tudo o que encontrava pelo caminho.
Loew já tinha começado as rezas que dão início ao Sabbath, mas se viu obrigado a interromper a cerimônia para dominar a criatura. O rabino enfim voltou à sinagoga e retomou as rezas – e desde então o Salmo 9 é cantado duas vezes na Sinagoga Velha Nova, coisa que não se vê em nenhuma outra do mundo.
Quando passar por ali, olhe para a parte de cima do prédio. Dizem que o Golem repousa no sótão da sinagoga, aonde ninguém tem acesso, por ordens expressas do rabino Loew.
7. A lenda do menino de pedra
De volta à New Town, a gente encontra a Igreja de São Martinho (St. Martin in the Wall) no limite da muralha que cercava a cidade na Idade Média. Contam por ali que uns moleques de rua tinham mania de subir no telhado da igreja e ficar gritando gracinhas para quem passasse por ali. Um belo dia, uma viúva repreendeu o menino que estava pendurado no telhado e disse para ele parar de fazer isso. O menino respondeu com uma careta e continuou fazendo zoeira até que a viúva levantou os braços na direção dele, murmurou alguma coisa e… o menino ficou petrificado!
Se estiver nas bandas do Lego Museum, dê um pulinho na rua Martinská e repara no canto esquerdo da igreja, se não tem um pestinha fazendo careta pra quem está na calçada! rs
8. Bônus! A lenda do Rudolfinum
Essa não é uma das lendas de Praga contadas no livro, nem é da era medieval. É uma anedota da Segunda Guerra, que teve origem na literatura do escritor tcheco Jiří Weil… Mas é tão curiosa que merece entrar na lista :) O cenário é o Rudolfinum, sede da Orquestra Filarmônica de Praga, decorada com estátuas de grandes compositores e artistas ao redor do telhado.
No período da ocupação nazista em Praga, o general Reinhard Heydrich teria ordenado que fosse derrubada a estátua de Mendelssohn (autor da Marcha Nupcial), que tinha origem judaica. Os soldados, sem saber reconhecer os compositores, teriam procurado a estátua com o maior nariz e, por pouco, não cometeram o erro de derrubar a estátua de Wagner (da Cavalgada das Valquírias), que por acaso era um dos ídolos de Hitler. Ops!
Esse trecho da literatura se tornou famoso e a estátua de Mendelssohn é a mais procurada no alto do prédio – mas, na vida real, nunca houve uma estátua de Wagner no Rudolfinum.
Muitas outras lendas de Praga
Leia também: o que fazer no Castelo de Praga (e a lenda da Santa Wilgefortis, a santa de barba!) e as histórias da Rua Nerudova, a rua medieval onde as casas têm desenhos em vez de números (e muitas outras lendas para contar!).