O Museu da Cosmonáutica, em Moscou
Para que servia o Sputnik? Qual era a missão de Yuri Gagarin? Como é uma nave espacial por dentro? Se você é como eu e sente aquela curiosidade quando vê uma revista Superinteressante, vai se divertir no Museu da Cosmonáutica, em Moscou.
Astronautas ou cosmonautas?
A primeira coisa a saber sobre o Museu da Cosmonáutica está logo no nome: os russos não usavam a palavra “astronauta”, preferiam o termo “cosmonauta”. Talvez a disputa com os EUA durante a Guerra Fria passasse também pelo aspecto simbólico: quem consagra o termo que define esse campo tão importante da ciência?
A Corrida Espacial sem dúvida foi um acelerador no desbravamento dos astros (ou do cosmos?) e muito do que se vê na exposição tem um quê de orgulho nacional, claro. Mas desde 2009, quando o museu reabriu depois de 3 anos de reforma, a exposição também ganhou partes dedicadas a projetos internacionais – da Europa, da China e inclusive dos EUA.
Monumento aos Conquistadores do Espaço
O museu fica na base do Monumento aos Conquistadores do Espaço, uma escultura enorme de um foguete sendo lançado, feita de aço e titânio, com 110 metros de altura. Uma coisa impressionante, realmente grandiosa! Olha na foto o tamaninho das pessoas perto da escultura!
A inauguração do monumento aconteceu logo no início da década de 60, apenas 3 anos depois de Yuri Gagarin realizar o vôo orbital em que a humanidade constatou: “a Terra é azul”. O museu foi criado 20 anos depois.
Como é o Museu da Cosmonáutica
A exposição do Museu da Cosmonáutica oferece um panorama da ciência espacial soviética, começando pela construção dos primeiros satélites feitos pelo homem. Em seguida, mostra a evolução dos primeiros vôos espaciais tripulados e o programa de exploração da Lua, até chegar nos projetos de exploração do sistema solar e programas internacionais de pesquisa espacial.
Logo na primeira sala, dois dos maiores orgulhos russos nos dão as boas-vindas: Yuri Gagarin, o primeiro homem do mundo a viajar pelo espaço, e uma réplica do Sputnik, o primeiro satélite artificial da Terra.
Sputnik e o início da “Era Espacial”
O Sputnik foi um satélite artificial que passou 3 meses em órbita, emitindo sinais que podiam ser captados por rádios aqui embaixo. O que poderia parecer apenas um “beep” configurava a primeira tentativa bem sucedida de comunicação com o espaço, atribuindo ao Sputnik uma importância histórica incontestável.
O lançamento desse satélite é considerado o marco que inaugurou a “Era Espacial” – o que foi interpretado pelos EUA como um desafio para superar os russos. Para entender o contexto político neste período, recomendo demais ver o episódio sobre Corrida Espacial da série História Direto ao Ponto, da Netflix.
Bunker 42 em Moscou: por dentro de um abrigo da Guerra Fria
O outro lado da Corrida Espacial
Aqui no Brasil, a gente sempre ouve falar da Guerra Fria do ponto de vista dos EUA. Até hoje, todo filme de ação hollywoodiano tem um espião russo super malvado e todo filme de ficção científica exibe a NASA como um ícone da inteligência e da tecnologia americana.
É bem legal ver a história contada pelo outro lado, pra variar. Desta vez, os desafiantes e os espiões são os americanos, enquanto a Rússia é pioneira da conquista espacial – comemorando o primeiro satélite, o primeiro homem no espaço e a primeira mulher no espaço também.
Como são as naves espaciais por dentro
Nos salões do museu, naves cenográficas e exemplos de alimentos levados para o espaço dão uma ideia de como é o dia-a-dia de um astronauta (ops, sempre me confundo! É cosmonauta!). Algumas naves a gente pode visitar por dentro, para a alegria das crianças :)
Até a cápsula usada em 1961 por Yuri Gagarin está em exposição! Outro destaque é o módulo da Estação Espacial Mir, que funcionou de 1986 a 2001. A Mir foi a primeira estação de pesquisa continuamente habitada em órbita e serviu como um laboratório de pesquisa de microgravidade, onde a equipe soviética realizava experimentos de biologia humana, física e astronomia para continuar desenvolvendo tecnologia espacial.
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Diversos equipamentos como foguetes, satélites e sondas também podem ser vistos em tamanho real, além de objetos usados nas missões e trajes espaciais de cada período.
Laika e os cãezinhos astronautas
A Laika é certamente a cachorrinha cosmonauta mais famosa da história, mas outros bichos também foram recrutados para missões espaciais.
No Museu da Cosmonáutica, estão empalhados os cachorros Belka e Strelka, que foram os primeiros seres terrestres soviéticos a irem para o espaço e voltarem sãos e salvos, em 1960. Não foram os únicos, pois abordo da espaçonave também tinha um coelho, 42 camundongos e várias plantas e insetos, mas os cãezinhos foram os protagonistas da missão. Toda a tripulação voltou bem.
Informações sobre o Museu da Cosmonáutica
Se você ficou a fim de visitar o Museu da Cosmonáutica, que bom que está lendo este artigo aqui no blog! Pois esse lugar fantástico ainda sofre de um problema muito comum entre os museus russos: tem pouca informação em qualquer língua estrangeira.
A partir de 2018, a exposição passou a ter alguns resumos em inglês e áudio guia disponível em inglês também – porém não há nada em espanhol ou português. Mesmo assim, a exposição e os elementos interativos compensam e fazem a experiência interessante independente do idioma.
Alameda dos Cosmonautas
O lado de fora do museu também merece atenção e um tempinho reservado para o passeio. No caminho da estação de metrô VDNKh até o monumento e o museu, a gente passa pela Alameda dos Cosmonautas, que tem uma sequência de estátuas em homenagem a importantes figuras do Programa Espacial Soviético.
Entre eles está Valentina Tereshkova, primeira mulher a ir ao espaço, em 1963, quando completou 48 órbitas ao redor da Terra. E também Pavel Belyayev, primeiro humano a sair da nave no espaço, em 1965 (que tem aquela enorme estátua em sua homenagem no Cemitério de Novodevichy).
É uma área só de pedestres, que estava linda na primavera com os canteiros floridos. Além das estátuas e placas comemorativas, também tinha uma esculturas legal do sistema solar :)
Noites Brancas e Noite dos Museus
O dia estava nublado quando chegamos e (nunca pensei que fosse dizer isso) o sol só apareceu à noite. Com o verão se aproximando, os dias eram cada vez mais longos na Rússia, fenômeno chamado noites brancas. Na hora que saímos do museu, quase 8h da noite (já estaria escuro no Rio mesmo no horário de verão), pudemos ver o parque e o monumento do foguete sob um belo céu azul!
Ainda demos a sorte de estar em Moscou no International Museum Day, 18 de maio, quando a entrada era grátis e os museus estavam abertos até mais tarde. Aproveitamos para visitar vários! Só tive que pagar a permissão para fotografar – que é um ticket à parte em muitos museus russos. No caso do Museu da Cosmonáutica, a pulseirinha que dá direito a tirar fotos custa mais 230 rublos, além dos 300 rublos do ingresso.
Como chegar no Museu da Cosmonáutica
O museu fica ligeiramente fora do centro e não aparecia em nenhum dos mapas que a gente tinha da cidade, mas não foi difícil chegar lá. É só descer na estação de metrô VDNKh e seguir o obelisco do foguete (VDNKh é a sigla em russo para o nome do Parque de Exposições que existe ali).
O horário de funcionamento é de terça a domingo, de 10h às 19h. Às quintas e sábados, fica aberto até 21h. Uma dica para quem mais tempo que dinheiro: no terceiro domingo de cada mês, a visita ao museu é grátis, mas pode haver fila.
Quem gosta de história, astronomia, física ou pelo menos curte filme de ficção científica vai adorar visitar o Museu da Cosmonáutica em Moscou!
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