Sim, existe street art em Malta (e é incrível)
Conhecida pelo patrimônio histórico e pela devoção religiosa, essa pequena ilha do Mediterrâneo é um destino improvável para falar de street art. Mas, em meio ao circuito turístico normal, me deparei com um mural de graffiti que acabou me levando a descobrir uma curiosa cena de street art em Malta.
Era um mural enorme e com uma qualidade técnica impressionante – um graffiti assim não surge sem contexto… Sinal de que devia ter mais coisa interessante por ali!
A maior peculiaridade da arte urbana em Malta é que lá o graffiti não surgiu como expressão da periferia. O vandalismo e a criminalidade, frequentemente associados ao graffiti em outros países, são praticamente inexistentes na ilha.
Talvez por isso, enquanto boa parte do mundo repreende ou simplesmente tolera a street art, Malta deliberadamente estimula esse tipo de expressão.
O país está comissionando obras de artistas locais e de outros cantos da Europa, promovendo festivais e oferecendo aulas de técnicas de pintura com spray e stencil nas escolas (e até em alguns lares de idosos!).
A secretaria de cultura de lá entende que é uma forma de engajar o público jovem e contribuir para a revitalização de áreas urbanas degradadas. Foi assim que as ruínas do Jerma Palace Hotel, abandonadas desde 2007, ganharam as cores de artistas como MrDheo, Pariz One e Kas (Portugal), Wild Drawing (Bali), Bond Truluv (Alemanha) e Original (Suíça) .
O mesmo está acontecendo com o complexo-fantasma White Rocks (que um dia foi um quartel britânico), enquanto não é transformado em um condomínio com lojas e hotel.
Mais do que colorir escombros, o Arts Council Malta quer estimular a indústria criativa e inserir a ilha no mapa cultural da Europa. Com tanto fluxo de turistas e estudantes de intercâmbio, eles certamente terão visibilidade para fazer isso acontecer.
Muitos dos murais que surgem em Malta abordam temas da política internacional – como a guerra na Síria, a crise ética do capitalismo ou mesmo a estapafúrdia campanha presidencial de Trump nos EUA. Aquele primeiro mural que eu tinha visto, por exemplo, tratava dos imigrantes que usam o Mediterrâneo como porta de entrada para a Europa.
Depois eu descobri que esse mesmo artista francês, que fez o cara pulando a parede em Malta, depois criou a continuação da cena com o imigrante aparecendo na Itália. Genial!
Se eu puder dar um pitaco, acho que a Crafts Village de Malta seria um lugar incrível pra fazer uma edição do festival.
Os antigos barracks usados por militares britânicos na Segunda Guerra Mundial já se transformaram em ateliês para artesãos, vidraceiros, marceneiros, joalheiros… Agora imagina aqueles galpões cobertos de graffiti, como iam ficar incríveis!
O que eu posso dizer sobre a cena de street art em Malta é: fique de olho nela. Acompanhe a página Malta Street Art Festival para saber sobre os próximos eventos.