Templo Branco, na Tailândia: bizarro, pop e imperdível
Diferente de tudo o que eu já tinha visto, o Templo Branco em Chiang Rai, no norte da Tailândia, foi um ponto alto da viagem pelo Sudeste Asiático. O templo, que oficialmente se chama Wat Rong Khun (mas ficou conhecido como White Temple, pela cor e pela dificuldade dos viajantes em falar o nome tailandês… rs), chama atenção por seu simbolismo.
Nessa construção impressionante e cheia de detalhes, os elementos derivados das tradições budistas e hindus se misturam com inúmeras referências à cultura pop ocidental. O resultado é hipnotizante e divertidíssimo de se visitar!
Projetado pelo artista tailandês Chalermchai Kositpipat, o Templo Branco começou a ser erguido em 1998 e só será concluído em 2070. Se a beleza da construção e a riqueza dos detalhes já são de tirar o fôlego agora, não imagino como ficará daqui a 60 anos.
Esse não é um templo budista comum
De longe, o Templo Branco tem um ar majestoso. O telhado em vários níveis contornado de pontinhas, característico da arquitetura Lanna do norte tailandês, fica ainda mais bonito com o brilho espelhado que reveste o templo.
A construção e o jardim são tão lindos que a gente não acredita que aquele lugar é real. Um belo lago cercado por simpáticas criaturas mitológicas completa a paisagem.
Mas um olhar mais atento revela monstros, aliens e demônios por todos os lados. Parece cenário de um conto de fadas bizarro! A gente não sabia como reagir quando deu de cara com o Predador, do filme de sci-fi da virada dos anos 90, no jardim de um templo budista tailandês!
Caminhar pelos monumentos e esculturas do Templo Branco é se ver no meio de uma cena surrealista. Cada elemento é uma surpresa – surge de forma completamente inesperada e de algum jeito se encaixa no visual onírico.
O significado do Templo Branco
O mais interessante do Templo Branco é que Kositpipat usou a arquitetura e suas instalações de arte para contar uma história. Passada a estranheza inicial, a gente começa a desvendar o significado.
O templo encoraja os visitantes a refletir sobre os ensinamentos budistas. As representações do bem e do mal se alternam a todo momento, como no mundo em que a gente vive.
A tensão vai aumentando à medida que a gente se aproxima da da ponte para o templo central. Protegida por dois grandes guardiões, a ponte fica sobre uma espécie de abismo do inferno, com esculturas de mãos que representam o desejo e o sofrimento humano.
Enquanto a gente atravessa a ponte, todo aquele caos vai ficando para trás. Essa é a transição para o lugar de paz, da elevação da mente. Até que chegamos ao templo principal – que é quase um refúgio no meio de toda a loucura (ou ao menos era, quando a gente visitou, em 2012, depois começou a ficar bem mais movimentado! rs).
A cor branca representa a pureza de Buda, e os detalhes reluzentes simbolizam sua sabedoria, que brilha sobre a Terra. Fiquei fascinada de ver os adornos brilhantes de perto!
O interior do Templo Branco
O mesmo tema se apresenta dentro do edifício principal, onde há um mural colorido e interessantíssimo: ícones do mundo pop e personagens de filmes aparecem em imagens apocalípticas e cenas de tragédias, numa crítica à falta de paz do estilo de vida ocidental.
Lá estão Michael Jackson, Batman, Darth Vader e até o Kung Fu Panda e alguns Angry Birds em meio a ilustrações dos atentados terroristas às Torres Gêmeas de Nova York (devidamente amarradas a uma bomba de combustível, para contextualizar a guerra pelo petróleo).
Não é permitido tirar fotos no interior do templo, mas consegui umas reproduções de cartões postais para mostrar alguns dos desenhos. Kositpipat explicou numa entrevista que sua arte se refere ao “assassinato da inocência” e que nenhum super heroi é capaz de nos salvar.
Mas o ar sombrio e sarcástico que predomina até ali se desfaz à medida que mural se aproxima do altar do templo. A pintura começa a ganhar tons mais claros e mostra pessoas comuns (e não mais personagens americanos) embarcando em direção à imagem do Buda.
A presença de tantos elementos ocidentais é, ao mesmo tempo, o que causa estranheza e o que atrai turistas ao Templo Branco. Esse é um dos poucos locais do Sudeste Asiático em que não estamos cercados de símbolos religiosos e mitológicos que mal conhecemos.
Conseguimos identificar nossos próprios ícones – e talvez por isso o artista os explore de forma tão dramática, para tornar inevitável a reflexão.
De volta ao lado de fora, criaturas fantasmagóricas e cabeças decepadas representam aqueles que não conseguiram ainda vencer os vícios e as tentações mundanas para obter entrada na Morada do Buda.
Como é visitar o Templo Branco
Como o templo ainda não está acabado, há pintores trabalhando no mural mesmo nos horários abertos ao público. Assim como há construtores no pátio a todo momento, finalizando as estruturas que ainda não têm revestimentos e criando novas esculturas no jardim.
E por isso você encontrará coisas fascinantes na sua viagem que a gente não viu quando esteve lá :D
A entrada é grátis, mas você pode deixar sua doação/contribuição na loja de souvenir que fica na saída (afinal, ainda tem 50 anos de obras pela frente e o artista está fazendo o projeto de forma independente). Uma dica legal é que tem uma mesa com cartões postais gratuitos em que você pode escrever sua mensagem e carimbar o símbolo do templo para postar no correio :)
O prédio dourado na lateral, apesar de ter jeitão de templo, abriga nada mais que os banheiros e salas de descanso. Mesmo assim, todo adornado, atrai as câmeras de todos os visitantes.
Importante lembrar que, apesar de este ser um templo todo moderno, as regras quanto à vestimenta são as mesmas dos demais locais religiosos da Tailândia: ombros e joelhos devem estar cobertos e é preciso tirar os sapatos para entrar.
Como visitar o Templo Branco de Chiang Rai
O Templo Branco tem entrada gratuita e fica a 13 km a sudoeste de Chiang Rai, seguindo pela rodovia Phahon Yothin (próximo ao Km 816). Mesmo que você não tenha alugado um carro (veja opções aqui), dá para ir de táxi, Uber ou tuktuk.
Se for usar transporte público, há uma linha que sai da estação de ônibus de Chiang Rai a cada meia hora (custa uns 20 baht).
Para voltar, dá pra pegar ônibus ou songtaew (um tipo de picape com cabine para passageiros) perto da delegacia de polícia, no lado esquerdo da estrada que leva de volta para a rodovia principal.
Passeios de Chiang Mai para o Templo Branco
Chiang Rai é uma cidade pequena (bem menor que Chiang Mai), e nós passamos por lá porque cruzamos a fronteira da Tailândia para o Laos de barco. Mas este não é o roteiro mais comum.
Muitos viajantes não se hospedam em Chiang Rai, e fazem apenas um bate-volta de Chiang Mai para ver o Templo Branco. Fica cansativo pois são mais de 3h e meia na estrada, mas é possível sim.
Há dois principais tipos de passeio. Um tour combina o “templo branco” com a “casa negra”, que é o museu Baan Dam – uma espécie de sítio-galeria onde se podem ver as obras do artista Thawan Duchanee (1939 – 2014), que misturava arte contemporânea com elementos tradicionais tailandeses.
O outro tour vai até o mirante do Triângulo Dourado (que é o “Marco das Três Fronteiras” do Sudeste Asiático, onde se encontram Tailândia, Laos e Mianmar), inclui um pequeno passeio de barco no rio e visita também o Museu do Ópio. Ambos saem de Chiang Mai beeeem cedinho e voltam à noite.
Onde ficar em Chiang Rai
Se você está fazendo uma viagem um pouco mais longa pelo Sudeste Asiático, pode valer muito a pena se hospedar em Chiang Rai. É um destino bastante econômico e com excelentes opções de hotéis. Nós estávamos fazendo um mochilão e ficamos em um hotel 4 estrelas! Foi ótimo para ter um bom descanso em meio a um roteiro agitado.
Algumas boas opções são os hoteis Le Patta e Nak Nakara, a pousada Sleepy House e os hostels Mercy e Busket.