Nos arredores de Bangkok: templo dos tigres e o mercado flutuante
Logo no início do livro A Arte de Viajar, Alain De Botton fala sobre as expectativas que criamos sobre os nossos destinos dos sonhos. Folhetos, fotos, guias de viagem (e blogs também, claro) selecionam fotos e histórias que nos levam a fantasiar sobre os lugares que não conhecemos. E então partimos em busca daquela fantasia, às vezes para descobrir que lugar era mais bonito na nossa imaginação.
Aconteceu comigo na Tailândia, quando fomos visitar um mercado flutuante a pouco mais de 100 km de Bangkok. Um mercado flutuante é uma feira que acontece em meio a um rio de águas calmas, para onde cada vendedor leva seus produtos em uma canoa e os diversos barcos se emparelham para negociar. Muito pitoresco!
Depois de ver imagens lindas de canoas plenas de frutas e vegetais fresquinhos, chegamos no Floating Market de Damnoen Saduak para ver que os tradicionais produtores rurais estavam perdendo lugar para espécies de camelôs, em barcos com motores e óleo, que tentavam insistentemente empurrar bugigangas aos visitantes. Nessa hora, a gente entende que caiu numa “tourist trap” – a típica armadilha para turistas.
A atmosfera agitada, com barraquinhas de souvenirs e comida, não era muito diferente do que se via na Khaosan Road, no centro de Bangkok.
O jeito era tentar entrar no clima e tirar proveito da experiência. Comemos espetinho de pato e nos deliciamos com um pratinho de banana assada com melado de coco.
Achamos graça das promoções anunciadas no tailandês estridente da vendedora que gritava “biscoitos caseiros por 5 bath!” e levamos um pacote de biscoitinhos de flocos arroz com mel (possivelmente um mel feito de arroz também).
Ouvi outros viajantes comentarem sobre um outro floating market que ainda mantém sua personalidade original, mas não consegui confirmar sua localização (alguém aí sabe? aceito a dica nos comentários!).
A verdade é que, como pondera o filósofo De Botton, da mesma forma que a expectativa é criada em cima de fragmentos, a memória também se cria de forma seletiva. Depois de passado um tempo, o que ficou foi a lembrança de uma experiência curiosa num lugar efervescente e exótico.
Seguimos o nosso passeio com uma passagem rápida pela tão famosa Ponte do Rio Kwai (a.k.a. “a ponte do rio que cai”), imortalizada em livro e filme da década de 50, estratégica para facilitar o acesso das tropas japonesas entre os territórios da Tailândia e de Myanmar (antiga Bruma) durante a Segunda Guerra Mundial.
Visitamos também o Cemitério Kanchanaburi, onde foram enterrados os australianos, britânicos e holandeses prisioneiros de guerra que haviam sido forçados pelo Japão a trabalhar na construção da ponte ferroviária.
Almoçamos na estrada, num restaurante simples mas bem charmosinho, que servia os pratos típicos mais populares da tailândia, como arroz ou macarrão refrito com legumes. E enfim chegamos ao Tiger Temple, um dos pontos mais esperados da nossa viagem. Essa era oura grande expectativa: ver os tigres de pertinho!
Na entrada do “zoológico” havia barraquinhas orientando a usar roupas que cobrissem os ombros e os joelhos, evitar as cores vermelho e laranja (para os tigres não nos confundirem com os monges que os criam), e remover qualquer acessório como colares, relógios e óculos que os bichos possam tentar puxar de nós.
Já havia uma enorme fila de turistas, de todas as idades, ansiosos para ver os tigres. É evidente o risco de expor centenas de pessoas todos os dias a meia dúzia de tigres. Para garantir a segurança, todo o processo é bem organizado: cada visitante só pode entrar de mãos dadas com um guia, que também fica com sua máquina fotográfica. Depois de um breve “circuito” para chegar perto cada um dos tigres, é hora de encerrar a sua vez e deixar a fila andar.
O templo abriga também ursos pretos, veados (que alimentamos com pedaços de melancia), porcos e até búfalos soltos pelo terreno (!!!).
Aqui, de novo, a sensação de que era uma “tourist trap” nos arremeteu. Há quem diga que os tigres são drogados para ficarem tão relaxados diante de tanto estresse; mas há quem argumente que a preguicinha dos bichos durante o dia é reflexo da alimentação abundante e dos hábitos noturnos característicos da espécie.
Tem um outro zoológico deste tipo na cidade de Chiang Mai, o Tiger Kingdom, onde dizem que os tigres parecem mais “acordados” interagem mais com os visitantes.
No fim das contas, eu acho que a experiência valeu a pena por um simples motivo: eu teria passado o resto da vida imaginando e fantasiando a partir das fotos alheias se não tivesse ido ver por mim mesma.
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