A magnitude de Angkor Wat, o templo perdido do Camboja
No fim do século 16, um frade português encontrou as ruínas de um templo perdido que hoje viria a ser um Patrimônio da Humanidade. Angkor Wat, que começou a ser erguido no começo do século 12 pelo rei hindu Suryvaman II, passou 400 anos inabitado após o declínio do Império Khmer.
Mas foi apenas a partir de 1992, com o início dos projetos de restauração e o título conferido pela UNESCO, que o complexo de templos de Angkor, a 6km da cidade de Siem Reap, colocou o Camboja no mapa dos grandes roteiros turísticos do mundo. Certamente é um dos pontos altos de toda viagem pelo Sudeste Asiático.
A construção de Angkor Wat
O templo principal, que leva o nome do complexo, levou apenas 37 anos para ser construído e o esforço de nada menos que 350 mil trabalhadores e mais de 12 mil elefantes. Apenas para ter uma ideia, a catedral de Notre Dame, em Paris, começou a ter construída na mesma época e levou 182 anos até a conclusão das obras!
Dentre tantas coisas impressionantes que nosso guia nos contou sobre esse monumento, uma das mais surpreendentes é que, de todos os 350 mil trabalhadores, 95% eram voluntários – homens que queriam expressar sua gratidão e devoção.
Mesmo Angkor Wat já possuindo o título de maior templo do mundo, esse fato, em minha opinião, também o torna o lugar mais sagrado do mundo – cada pedra foi colocada por alguém que estava ali pela própria fé.
Esse sentimento é ainda mais elevado pela magnitude da estrutura. Cada aspecto arquitetônico do templo possui seu simbolismo religioso. O fosso de 200 metros de largura que cerca o templo representa os oceanos que cercam o cosmo, as 5 torres do templo representam o monte Meru (montanha mítica hindu).
Nas paredes dos salões, uma litania em cada quadrante. Os desenhos nas pedras contam as guerras mitológicas entre deuses e demônios entre outras histórias.
Maior cidade da antiguidade
Toda aquela região era parte do Império Khmer, que construiu em Angkor dezenas de hospitais e escolas (quer dizer, o equivalente a isso naquela época), se estendendo por quase 1.000 km². Imagina: uma cidade do tamanho que Moscou tem hoje em dia!
A população chegou a ter 1 milhão de pessoas, fazendo de Angkor a mais povoada cidade da antiguidade e a maior cidade pré-industrial da humanidade. Para ter uma ideia, a segunda maior era Tikal, a cidade Maia, que não tinha mais de 150 km².
O que vemos hoje são apenas os templos, construídos com pedras para perdurar como os deuses. As demais construções da cidade, feitos de madeira e outros materiais mais frágeis, pereceram como os mortais.
Cenário de Tomb Raider no Camboja
É incrível ver como a natureza se apropriou das ruínas nesses 400 em que a antiga cidade ficou abandonada. O templo Ta Prohm foi um dos poucos deixados no estado em que foram redescobertos, e é impressionante ver a construção tomada por raízes de árvores gigantescas. Mal dá para imaginar a complexidade do trabalho de restauração.
A combinação das ruínas com a selva fez de Ta Prohm um dos cenários mais marcantes do filme Tomb Raider que foi gravado ali em 2001, embora Lara Croft passe por várias outras locações entre os templos do Camboja.
Angkor Thom e o templo Bayon
Também vale a pena visitar Angkor Thom, construída pelo sucessor de Suryvsman II, ainda no século 12. A essa altura, o budismo já começava a ser adotado naquela região da Ásia, e então o templo foi construído de forma mista, com imagens budistas e hinduístas lado a lado. Uma flexibilidade e tolerância religiosa que dificilmente se vê entre as religiões do ocidente.
Cada metro dessa fantástica estrutura é cheio de ricos detalhes e o trabalho interminável de restauradores pode ser visto em diversas partes, como nas colunas que exibem escrituras em sânscrito, tida como a escrita mais antiga do mundo.
Outro ponto alto do complexo é o templo Bayon, com torres em que as imagens de Buda têm o rosto de Jayavarman VII, mais um grande imperador Khmer. Ao contrário do que isso representaria na cultura ocidental, o imperador não tinha pretensão de se comparar à divindade. Pelo que o guia nos explicou, essa era uma maneira de expressar sua devoção e seu desejo de atingir a espiritualidade máxima.
A vista é impressionante e a construção é linda em meio ao verde. A construção está muito bem conservada e é possível passear por todos os seus cantos, admirando as esculturas nas pedras.
Nascer do sol em Angkor Wat
A visita a Angkor Wat começa cedo, entre 4h e 5h da manhã. O nascer do sol atrás do templo é uma das grandes atrações turísticas do local. Na hora em que o sol surge atrás das torres, a quantidade de turistas já se encontra na casa das centenas.
Procure chegar cedo e escolher um bom lugar para esperar o sol raiar. Se o pátio na frente do templo alagar, devido às frequentes chuvas da região, pegue lugar bem à margem do lago e prepare a câmera, pois as fotos do templo com o reflexo na água ficam lindas.
Os mais resistentes podem ficar direto para começar a visita às ruínas assim que o dia amanhecer. Angkor Wat and Srah Srang são os primeiros templos a abrir, então comece por eles. Os demais, abrem às 7h30.
A vantagem é que o templo fica menos cheio nesse horário, já que muitas companhias de turismo voltam com seus grupos para tomar café da manhã no hotel e retomam o passeio dali a algumas horas (os tickets são válidos para o dia todo).
Com o aumento da demanda por tours ao nascer do sol, começaram a surgir também algumas alternativas tours com pôr-do-sol, tendo como cenário os templos Phnom Bakheng e Pre Rup. Esses são os últimos templos a fechar, às 19h, enquanto os demais encerram a visitação às 17h30.
Como visitar Angkor Wat
Há 3 tipos de ingresso para Angkor Wat, que valem para todos os templos do complexo: o passe de 1 dia (US$ 37), o passe de 3 dias (US$ 62) e o passe de 7 dias (US$ 72). Os passes são nominais e podem ser usados em dias não consecutivos – o passe de 3 dias tem validade de 10 dias, e o passe de 7 dias tem validade de 1 mês.
O complexo é grande (afinal, Angkor era uma cidade inteira), então vale muito a pena fazer um tour de van, tuktuk ou alugar uma bicicleta para otimizar o tempo da visita. Assim, é possível ver os principais templos em 1 dia. Quem quiser ver detalhadamente deve considerar um passe de pelo menos 3 dias.
Não é possível comprar ingresso antecipado, você tem que comprar no próprio dia da visita e o único ponto de venda é o Angkor Ticket Office, que não fica na entrada do templo! Veja o mapa aqui. A bilheteria funciona a partir das 5h. Mantenha seu ingresso seguro, pois ele é conferido na entrada de cada templo.
Há ainda passeios de balão sobre o templo – que custam 20 dólares e podem ser contratados diretamente no local. O balão é amarrado ao chão, por isso não dá uma volta pela região, mas sobe a 120 metros de altura. Não procuramos fazer, porém num dia de céu aberto deve ser um passeio inesquecível e um jeito único de se ter uma ideia mais realista da magnitude dos monumentos.
Planeje sua visita
Para apreciar a riqueza histórica e mitológica das ruínas de Angkor Wat, faz muita diferença fazer a visita com um bom guia local. Escolha um tour com boas avaliações ou peça indicação de guia no seu hotel. A maior parte dos tours são em inglês e não incluem o ingresso, que é pago à parte, por aquela questão do Ticket Office que expliquei acima.
Há alguns pontos que vendem lanches e lámen em Angkor Wat, mas você pode levar algo na mochila para comer ao longo do dia (sanduíches, biscoitos etc). Apenas observe em que locais é permitido comer. Vale a pena levar garrafa d’água, pois lá custam caro.
Lembre-se de que alguns templos exigem vestimenta adequada para entrar, com roupas que cubram os ombros e joelhos. Estava muito quente quando visitamos, então a Nanda foi de short mas levou uma saia comprida para vestir quando necessário.
Museu Nacional de Angkor
Se você é do tipo que gosta de explorar por conta própria, ou se quiser se aprofundar na história, recomendo visitar o Museu Nacional de Angkor, em Siem Reap. Achei o museu interessantíssimo e passei umas 3 horas lá facilmente, embora tenha gente que visite em menos tempo.
O museu explica tudo sobre a construção e a arquitetura dos templos, apresentando também seu contexto histórico, além de contar um pouco sobre a tradição hindu e a chegada do budismo. O ingresso não é barato (US$ 12), mas as exposições são muito bem cuidadas e informativas, com um vídeo em cada sala. O áudio guia está disponível em inglês e espanhol.
A galeria dos Mil Budas é imperdível! Também achei interessantíssimo ter a contextualização das questões culturais e religiosas do Camboja, o que facilita a compreensão de alguns dos elementos de Angkor Wat. O museu também dá um panorama geral sobre cada templo do complexo.
Onde ficar em Siem Reap
Siem Reap tem uma excelente oferta de hotéis e, mesmo que está fazendo uma viagem econômica pode encontrar luxos acessíveis. Nós ficamos num casarão colonial com piscina, que foi perfeito no calor do Camboja, depois das longas caminhadas entre as ruínas. Veja algumas opções de ótimo custo-benefício:
Para visitar Angkor Wat, a maior parte dos tours buscam no hotel, então neste quesito a localização da sua hospedagem faz pouca diferença, desde que seja no centro de Siem Reap. Também é fácil alugar bicicletas por lá.
Pode fazer diferença estar perto da rua dos pubs, pois nessa área se concentram os restaurantes, mercados e festas da cidade. Assim, você sai à noite sem se preocupar com a volta para o hotel ;)
Como tirar visto para o Camboja
O visto de turismo para o Camboja custa US$ 30 e tem validade de 30 dias. Vale a pena levar dólares mesmo, pois a cotação de outras moedas (inclusive euro) é bem ruim.
O visto pode ser obtido ao chegar no país. No aeroporto, procure a indicação VOA (Visa on Arrival). Você deve ter um passaporte com pelo menos 6 meses de validade e uma foto 5×7 ou 6×8. Se você não tiver uma foto, pode tirar na hora por US$ 5, porém se já tiver a foto agiliza o processo.
Também é possível tirar o visto pela internet, no site oficial e-Visa, para adiantar essa parte burocrática. Nesse caso, além da taxa do visto, há também uma taxa de serviço e uma taxa de cartão de crédito, totalizando US$ 40.
Não deixe de fazer um seguro viagem para todo o período em que você estiver no Sudeste Asiático. Assim, você reduz risco de gastos extras com imprevistos (bagagem extraviada etc) e conta com assistência em caso de acidentes ou emergências de saúde.
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