A balada de John e Yoko: o casamento que foi uma volta ao mundo
Toda vez que escuto “The Ballad of John and Yoko” fico pensando na aventura que não deve ter sido a história do casamento deles. Foram duas semanas percorrendo uns 5 países pela Europa, na tentativa de se casar e compartilhar com o mundo seus ideais e sua história de amor.
Em março de 1969, dois dias depois do casamento de Paul McCartney e Linda, John Lennon e Yoko Ono resolveram oficializar sua união também. Mas não podia ser na Inglaterra por uma questão de documentação da Yoko, então eles tiveram a ideia de fazer a cerimônia num navio em alto mar, saindo do porto de Southampton.
O problema foi que John e Yoko não estavam com todos os documentos necessários naquele momento e não puderam embarcar, depois acabaram pegando um avião para Paris – onde passearam de manhã cedinho à beira do Rio Sena, como diz a canção.
Ao descobrir que o processo seria lento e burocrático na capital francesa, Peter Brown, que trabalhava na Apple Records, sugeriu a John Lennon que tentassem se casar em Gibraltar, território britânico no sul da Espanha. Desta vez deu certo! Passaram poucas horas em Gibraltar, foram direto para o Consulado, onde o escrivão os declarou marido e mulher.
Yoko, sempre longe do convencional, dispensou vestido e casou de mini-saia com meias até o joelho e tênis. Dizem que os óculos escuros dela eram assinados pela Vivienne Westwood, estilista que mais adiante definiu a moda do movimento punk londrino.
De Gibraltar, eles retornaram a Paris antes de seguir para a Holanda. Durante uma semana, os recém casados permaneceram na cama do quarto 702 do Hotel Hilton de Amsterdã, como forma de protesto pacífico contra a Guerra do Vietnã.
A imprensa mundial acompanhou o que ficou conhecido como “Bed-in” – os jornalistas tinham das 9h da manhã até às 9h da noite com livre acesso para fotografar, filmar e fazer perguntas.
Para ajudar a manter o interesse da mídia, John e Yoko convidaram várias personalidades para visitá-los no hotel.
Existiam boatos de que eles fossem, digamos, consumar o casamento publicamente (especialmente porque eles já haviam dado um tapa na cara da sociedade quando se fotografaram nus para a capa do disco Two Virgins), mas na verdade eram simplesmente dois hippies sentados na cama falando sobre paz.
O destino seguinte foi Viena, na Áustria, onde se hospedaram no Hotel Sacher, comeram a famosa torta de chocolate e deram novas entrevistas, desta vez escondidos embaixo de sacos brancos.
O “Bagism”, como eles chamaram, foi uma proposta de Yoko para criticar o preconceito e a estereotipagem, valorizando o discurso verbal. Tudo o que o casal fazia se transformava em uma performance artística.
Os últimos versos da balada falam ainda de mais um ato de ativismo dos dois: Lennon e sua esposa voltaram para Londres trazendo 50 sementes de carvalho que passaram a distribuir aos líderes globais para que, simbolicamente, plantassem a paz.
A música só conta até aí, mas dois meses depois houve um segundo Bed-in. Mais uma vez, os planos mudaram várias vezes até que a coisa fosse para frente.
A ideia original era que o protesto acontecesse em Nova York – mas Lennon não era bem-vindo pelo governo americano, justamente por estar à frente do movimento contra a Guerra do Vietnã (quando eles se mudaram para Nova York, em 1971, passaram 5 anos sofrendo tentativas de deportação até conseguirem visto de permanência).
Desviaram para Bahamas, onde passaram uma noite, e ainda deram um pulinho em Toronto até que, finalmente, decidiram por Montreal.
Foi durante o segundo Bed-in, no quarto 1742 do Hotel Queen Elizabeth, em Montreal, que John e Yoko gravaram Give Peace a Chance, que se tornou um hino do movimento pacifista.
Agora me diz: esse casamento foi ou não foi uma jornada e tanto pelo mundo?