Turquia além de Istambul

“A magnífica”. Só ao ler o título do artigo da revista História Viva, uns dois meses depois de ter voltado de viagem, é que achei o adjetivo correto para designar Istambul, a capital espiritual da Turquia (a material é Ancara). A antiga – e bota antiga nisso – Constantinopla é imensa e fascinante.

Só o fato de ser a única cidade do mundo a estender-se por dois continentes, Europa e Ásia, já faria com que Bizâncio (o nome ainda mais antigo da cidade) fosse excepcional, mas ela excede e apresenta ainda maravilhosas mesquitas – há centenas, literalmente – e mercados labirínticos plenos de cores e cheiros (nesse último quesito, o de especiarias é imbatível. Se você for um “gourmet“, prepare-se, pois poderá ter uma síncope ao ver e cheirar a infindável variedade de condimentos).

Mesquita Azul em Istambul
Mesquita Azul em Istambul

Pois é, confesso: Istambul quase me enganou. Depois da overdose de história e exotismo, por pouco não deixei de ver que a Turquia é muito mais do que isso. Descobri o fato ao despertar do cochilo que tirei ao deixar Constantinopla no ônibus da excursão que nos levava em direção à Capadócia. Tomei um susto.

Dos dois lados da estrada excelentemente pavimentada, parecia que os milhares de prédios residenciais e comerciais, as fábricas e até as onipresentes mesquitas haviam brotado do solo apenas nos últimos 25 anos. Estalavam de novos, como se dizia antigamente. Uma paisagem com outra característica – até onde a vista alcançava, e por cerca de 50 quilômetros, não havia casas.  Minto: vi uma, no alto de uma pequena colina. Só.

Com a chegada dos anos 2000, Konya, no centro-sul da Turquia, viu suas fazendas darem espaço a uma cidade moderna
Painéis solares em Konya, no centro-sul da Turquia

Aydan, nosso guia, confirmou (em seu excelente português saído direto de uma faculdade de Lisboa) que aquela região, na década de 80, “era mato, só havia fazendas de gado aqui”. Já inteiramente desperto e a ponto de sofrer um torcicolo por girar o pescoço de um lado para o outro, tive um “insight”: já vira algo semelhante em algum lugar. Num certo país da América do Sul, para ser mais exato.

Isso mesmo: a Turquia, pelo que estava vendo ali, parecia com o Brasil de uns 15 anos atrás, pronta para dar um salto triplo carpado para frente rumo ao desenvolvimento.

Turquia - Vista do hotel na Capadocia de manha
Vista do hotel na Capadócia de manhã

Ok, tem desvantagens – é 11 vezes menor, com uma população duas vezes inferior, e o islamismo praticado por 95% da população entrava a participação feminina no mercado de trabalho. Mas o país também ostenta uma grande vantagem: seu nível de desigualdade de renda é muito menor (0,38 lá contra 0,56 aqui, segundo o Índice de Gini, no qual quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade), o que lhe dá um ponto de partida superior.

Se você não é de ficar apenas na superfície dos países e povos que visita, mesmo que não seja um fissurado por história e geografia, como este escriba, vale uma boa olhada na Turquia. Talvez duas.


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