Caminhos de Santiago: uma aventura na Espanha
Eu achava que os Caminhos de Santiago eram um roteiro feito essencialmente por fiéis católicos, até que assisti a esse vídeo do Victor Iemini e percebi o quanto a cultura backpacker está presente. Ele fez um documentário de pouco mais de 5 minutos sobre a aventura que o levou a Santiago de Compostela, na Espanha, e deu dicas super úteis para quem também sonha em ir para lá.
É claro que o vídeo me deu vontade de viajar, então entrei em contato com o Victor para entender um pouco mais sobre essa experiência que ele definiu como uma viagem física e espiritual. Toda viagem é uma jornada – mas essa, em particular, leva a definição ao pé da letra.
Os Caminhos de Santiago são rotas que começam em diversos pontos da Europa e que se convergem no norte da Espanha. A principal delas começa na cidade de Saint Jean Pied de Port, no Sul da França – e foi essa que o Victor fez, percorrendo 772 km ao longo de 33 dias. Nada impede que se escolha um ponto mais próximo para iniciar o caminho, mas certamente os percursos mais distantes são mais ricos.
“Não sou católico e nem mesmo cristão, mas para mim o Caminho foi uma experiência muito intensa. Já no primeiro dia o pobre, o rico, o velho, o falido, o europeu e o estrangeiro se tornam iguais, ninguém é mais nem menos que ninguém, afinal pelos próximos 30 dias vamos percorrer as mesmas trilhas, conhecer as mesmas cidades.
Após algumas semanas, a gente esquece da vida como era antes, a caminhada matinal de 25 km cria um sentimento de contentamento, como a de terminar uma importante tarefa, e isso é uma sensação coletiva. Essa dose de auto-estima e humildade pacifica a mente, ajuda a ver a vida de outra perspectiva”.
Quando fez a viagem, em junho de 2012, Victor morava em Madrid. Ele pegou um avião para Pamplona, na Espanha, e de lá foi de ônibus para San Jean Pied de Port. A caminhada só começou no dia seguinte, depois de tirar a Credencial do Peregrino, que é uma espécie de passaporte que se deve apresentar em cada parada.
Somente aqueles com carimbos que comprovem uma trajetória de ao menos 100 km podem ter direito à “Compostela”, que certifica a conclusão do percurso.
Reza a lenda que basta seguir o traçado das estrelas para chegar ao túmulo de São Tiago, em Santiago de Compostela (li que a origem do nome é exatamente essa: São Tiago do Campo das Estrelas). Não sei se é verdade… Mas de qualquer forma há placas, setas e conchas amarelas indicando todo o caminho.
O Victor diz no vídeo que o ideal é começar a andar de manhã bem cedo, antes das 8h. Assim se chega à próxima cidade no início da tarde, quando os albergues abrem para receber os peregrinos, e ainda sobra um tempinho para conhecer o local e socializar com os demais peregrinos.
É uma viagem no tempo pelo interior da Europa, com igrejas e construções medievais por todo o percurso. Eu fiquei com vontade de conhecer o Palácio Episcopal de Astorga, obra de Gaudí.
Há quem faça o roteiro de bicicleta, mas Victor preferiu o ritmo da caminhada para ir conversando com outros peregrinos, apreciando a paisagem e a natureza pelo caminho.
“Se eu quisesse, podia sair correndo atrás de ovelhas que estavam pastando, invadir uma plantação de trigo, ou seguir o barulho da água para encontrar um rio… Diversas vezes vi cobras, lagartos, sapos e flores que nunca tinha visto antes” – um prato cheio para quem gosta de fotografar.
Algumas dicas do vídeo são fundamentais, como o uso de um cajado para dar apoio e aliviar o peso sobre as pernas, além de tênis ou botas apropriados para trekking. Também é importante sempre levar uma garrafa água e se proteger do sol. Diz o Victor que as longas caminhadas sob o sol forte chegam a provocar alucinações após algumas horas…
Não é preciso dizer que a preparo físico é indispensável, né? Logo no primeiro dia já são 20 km ladeira a cima para cruzar os Pirineus, montanhas que dividem França e Espanha.
Para passar a noite, cada um deve usar seu saco de dormir. A hospedagem é barata (em torno de 4 a 8 euros) e as opções incluem albergues paroquiais e municipais, além de hostais privados tipo Bed&Breakfast. É comum a presença de hospedeiros voluntários, que já fizeram o caminho anteriormente e sentiram uma conexão especial com aquele lugar.
As reservas não são possíveis nos albergues municipais, que são os mais baratos e de boa qualidade. O mais comum é que os peregrinos recorram à lista fornecida pelo centro de informações em Saint Jean Pied de Port ou aos seus guias de bolso (que variam um pouco conforme os autores e os países em que foram editados).
Depois de um mês inteiro nessa jornada, a chegada à cidade de Santiago é celebrada com uma missa na Catedral. A tradição manda subir atrás do altar e abraçar a estátua do santo, o Apóstolo Tiago, a que a peregrinação homenageia.
Além do site da Associação Brasileira dos Amigos do Caminho de Santiago, indicado no vídeo, alguns outros podem ajudar nos preparativos para o roteiro, como o Camino Adventures, os Guardiões do Caminho de Santiago e o Portal Peregrino.
¡Buen camino!