La Boca: as cores de Buenos Aires
Tive o privilégio de visitar Buenos Aires outras vezes antes, mas confesso que só aprendi a gostar de La Boca na terceira viagem que fiz para lá.
Talvez a culpa tenha sido minha mesmo – pois, das primeiras vezes, a minha passagem pelo bairro foi só com aquele city tour geralzão de Buenos Aires que mal dá tempo de descer do ônibus. Você só consegue tirar aquela mesma foto que todo mundo tira no Caminito e aquela outra fingindo que está dançando tango.
Walking tour em La Boca
Na última viagem foi diferente! Eu e minhas amigas pegamos um grupo de walking tour recomendado pelo nosso hostel. A guia nos levou de transporte público até La Boca e então passeamos à pé pelo bairro, batendo papo e vendo os grafites pelo caminho.
É um bairro cheio de cores, e é uma delícia andar observando as janelas e paredes super vivas. Dá para notar que o estilo das pinturas tem algo em comum com a street art de Montevidéu e de Valparaíso, no Chile.
Estádio do Boca Juniors
Com o grupo, visitamos o estádio do Boca Juniors, que eu também não tinha conhecido antes. Foi apelidado de “La Bombonera” por ser pequenininho e retangular como uma caixa de bombons.
A arquibancada fica super perto do gramado e, à medida que a bola se aproxima do gol, a emoção da galera é tanta que os torcedores sobem pelas grades que cercam o campo.
No passeio guiado pelo estádio, a gente brinca de recriar a cena, mas meus amigos que foram assistir a uma partida do “superclassico” Boca Juniors vs. River Plate disseram que não tem nada que se compare à adrenalina!
A visita vale a pena mesmo para quem não é fã, simplesmente porque o futebol é uma parte importante da história do bairro e da identidade do país.
O museu do estádio mostra uniformes, vídeos de partidas históricas e taças conquistadas pelo time. Os guias do estádio não falam português, mas capricham no portuñol :P
Caminito: as casas coloridas de La Boca
Mais adiante nos separamos do grupo (que parou num restaurante para almoçar e ver tango de rua) e continuamos a andar por ali por conta própria. Não é um bairro muito seguro para circular fora do eixo turístico, então nós nos mantivemos nos trechos mais movimentados.
Achei bem legal entrar nas lojinhas e vilas de La Boca não apenas para olhar souvenirs – quadros e coisas vintage – mas principalmente para ver como são as casinhas típicas por dentro.
Construídas pelos imigrantes italianos e espanhóis com restos de materiais encontrados no porto, muitas das casas eram feitas de tábuas de madeira e placas de metal.
Era uma área muito pobre e sem infraestrutura até que, na década de 1950, foi revitalizada e ganhou o colorido tão característico que fez do Caminito um cartão postal portenho. Nas laterais das casas, vemos pinturas de artistas argentinos como Benito Quinquela Martin, Julio Vergottini e Luis Perlotti.
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Un buen día se me ocurrió convertir ese potrero en una calle alegre. Logré que fueran pintadas con colores todas las casas de material o de madera y zinc que lindan por sus fondos con ese estrecho caminito (…) Y el viejo potrero, fue una alegre y hermosa calle, con el nombre de la hermosa canción y en ella se instaló un verdadero Museo de Arte. (Quinquela Martín, da biografia escrita por Andrés Muñoz em 1968).
Museu Benito Quinquela Martin
Quinquela Martín é considerado um dos pintores mais queridos pelos portenhos, e sua história é também a história de La Boca. Ele foi uma das pessoas que transformou o “Caminito” no museu a céu aberto que se tornou.
Aprendeu a pintar sozinho e as cenas da vida portuária foram temas de muitos de seus quadros. Em vez de usar o pincel, Quinquela Martín usava a própria espátula para aplicar tinta na tela – o que caracterizava ainda mais o trabalho árduo.
Essa técnica pouco convencional marcou um estilo próprio que, apesar de ter sido questionado pela elite artística, foi reconhecido internacionalmente.
Se você gosta de arte, vale dar um pulo ao Museu Benito Quinquela Martin, uma escola-museu que ele fundou na década de 1930, bem pertinho do Caminito, com vista para o Rio. Era ali que ele morava (uma casa super colorida, como todo o bairro!) e tinha seu ateliê.
O museu exibe obras do próprio Quinquela Martín e outros artistas argentinos, além de uma coleção de ornamentos de proas de barcos e navios do final do século 19.
Mais perto da orla do Riachuelo, há várias barraquinhas de artesanato e joias de prata. É justamente porque esse rio desemboca no Rio de la Plata que a região ganhou o nome “La Boca”.
Restaurantes e tango de rua em La Boca
Antes de ir embora, paramos para comer alguma coisa. Os restaurantes em La Boca são todos muito turistões, mas ainda assim prefiro as performances de tango de rua promovidas por eles que aqueles espetáculos de jantar e show para gringos verem.
Nós escolhemos uma lanchonete simples para comer umas empanadas com cerveja Quilmes (claro, né? Não poderia ser outra!). Depois descobrimos que Diego Maradona, no início da carreira, gostava de tomar café da manhã ali.
Podem falar o que for, mas todo mundo que vai à capital argentina acaba visitando La Boca. É um lugar que tem personalidade própria, é um bairro que faz parte do charme de Buenos Aires. Mas não adianta passar por lá com pressa, bom mesmo é se permitir descobrir as cores portenhas.
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