East Side Gallery: os grafites do Muro de Berlim
A East Side Gallery é a maior seção do Muro de Berlim ainda de pé, com 1,3 km seguindo as margens do rio Spree. Muitos outros pedaços do muro podem ser vistos pela cidade, mas nenhum outro trecho atinge essa extensão.
A galeria ganhou esse nome por causa dos 106 grafites e pinturas feitos na face leste do muro (a que era virada para o lado comunista), a maior parte fazendo referência aos acontecimentos políticos da época, mas há também quem a chame de Kunstmeile (“the art mile”, em alemão).
A criação da East Side Gallery, em fevereiro de 1990, menos de 4 meses depois da queda do Muro de Berlim, teve um valor simbólico fortíssimo: os artistas da época estavam se apropriando de um muro antes intocável. Aquelas paredes opressoras passaram a expressar a liberdade e o otimismo diante do novo momento político.
Uma das imagens mais famosas é a do Trabant rompendo o Muro de Berlim. Esse carro, uma espécie de “fusquinha comunista”, era o veículo mais comum da Alemanha Oriental.
Assim que a passagem passou a ser permitida, depois de 28 anos de separação, centenas de Trabants começaram a circular nas ruas do setor capitalista, levando cidadãos da antiga RDA ansiosos para experimentar outro estilo de vida e reencontrar quem estava do outro lado.
Outra imagem muito icônica é o “beijo fraternal” entre o líder soviético Leonid Brezhnev e o presidente comunista alemão Erich Honecker. A cena aconteceu de verdade durante a comemoração de 30 anos da fundação da Alemanha Oriental. No grafite, ganhou a legenda “Deus me ajude a sobreviver a esse amor”.
Mas a galeria é cheia de surpresas e também mostra como foi complexa a reunificação alemã. Um dos artistas que morava no lado Oriental, César Olhagaray, retratou os alemães capitalistas como um monte de gente de “cabeça quadrada”, intransigentes ao lidar com o que vinha do lado comunista.
Outro dos meus graffitis preferidos na East Side Gallery é “La Buerlinica”, que faz uma referência genial à obra prima de Picasso, “La Guernica”. Enquanto o quadro original representa um momento dramático da história espanhola, a pintura no muro ganha as cores da bandeira alemã para fazer o mesmo aqui.
Com o passar dos anos, a maior galeria de arte a céu aberto do mundo começou a ver quase todos os seus murais danificados pela exposição ao tempo e também pelo vandalismo de pixações e gente que tenta arrancar pedacinhos do muro para levar pra casa (por que, né, não consigo entender!).
Em 2009, uma ONG começou um trabalho de restauração que foi tema de grandes polêmicas, pois alguns artistas de 1990 não concordaram com a ideia de fazer retoques em seus trabalhos. Para eles, a arte urbana é transitória por natureza e perde o sentido sem o contexto histórico em que foi feita.
A questão também abriu uma discussão sobre os direitos autorais dos grafites, pois muitas imagens do muro foram reproduzidas sem autorização dos autores, inclusive em diversos merchandisings e souvenirs.
Fato é que hoje Berlim é uma das capitais mundiais de street art e a East Side Gallery é uma das maiores atrações da cidade, com mais de 3 milhões de visitantes por ano. Clichês e banalizações à parte, é muito legal caminhar ao lado do muro e tocar a construção que testemunha uma parte tão importante da história da Alemanha.
Mas se você quiser levar um souvenir, por favor não tente arrancar um pedaço do muro. Também não caia na furada de comprar uma daquelas caixinhas de plástico com um suposto pedaço do muro dentro (duvide-o-dó que sejam legítimos).
O que você pode fazer pra ter uma lembrança do lado Leste de Berlim é levar um passaporte antigo, já passado da validade, para receber um carimbo da Alemanha Oriental! :) Um dos antigos postos de controle de fronteira deu lugar a uma lojinha turística… rs
Para chegar na East Side Gallery, metrô Warschauer Strasse. Siga pela rua de mesmo nome até ver a Oberbaumbrücke, uma ponte de tijolos vermelhos com duas torres tipo de castelo. A East Side Gallery começa logo ali e segue para a direita. Você pode ir de bike ou fazer uma boa caminhada: tem mais de 1 quilômetro de arte e história pela frente.