Street art em Valparaíso: casas e escadas grafitadas
Valparaíso fica a 120 km de Santiago, na costa do Pacífico, e é um bate-e-volta comum para quem viaja pelo Chile. Mas se os viajantes antes só queriam ver a Casa de Pablo Neruda e o mirante do porto, agora os graffitis de artistas do mundo inteiro estão dando um motivo para andar pelas ruas e ter um contato maior com a cidade.
Valparaíso, que disparate
Fundada no século 16, Valparaíso teve uma história difícil, foi palco de pirataria, guerras, terremotos. O século 20 não foi exceção na maré de dificuldades dessa pequena cidade portuária, que enfrentou também a ditadura no Chile, a diminuição de atividade econômica pela abertura do Canal do Panamá, e o fechamento de várias indústrias da região.
“Valparaíso, que disparate você é, porto louco (…) nunca terminou de se pentear, não teve tempo para se vestir, a vida sempre lhe surpreendeu (…) Logo, Valparaíso, marinheiro, você esquece as lágrimas e volta a erguer suas habitações, para pintar as portas de verde, as janelas de amarelo (…) Você é proa remendada de um navio pequeno e corajoso”. Ode a Valparaíso, Pablo Neruda.
Como muitas cidades pelo mundo, Valparaíso apostou na cena criativa numa tentativa de começar a se renovar e atrair todo tipo de artistas, bares e atelies. Os reflexos desse acontecimento podem ser visto em praticamente todas as ruas do centro da cidade.
O lugar todo parece uma enorme galeria de arte cujas obras aparecem presentes de portas a prédios inteiros. Num conjunto de casas no alto de morros não muito longe do mar, ruas de paralelepípedo encontram-se vivas com o trabalho de grafiteiros por todas as paredes.
Artistas chilenos e europeus
Uma das intervenções de arte urbana mais famosas é a frase “We are not Hippies, We are Happies”, pintada pela dupla britânica Art + Believe, perto da Casa Partimonio (Calle Templeman 672).
Também me impressionam o mural do artista francês Mr. Papillion no Hostel Voyage (Pasaje Leighton) e o mural do artista espanhol Diego Cacamut, que hoje vive no Chile, para o Hotel Da Vinci na Calle Urriola.
Achei incrível como os elementos da cidade são incorporados nas pinturas. As escadarias são particularmente interessante – às vezes há um desenho de um olho no chão, indicando o ponto em que a perspectiva do desenho se encaixa perfeitamente.
Entre os artistas chilenos, a pintura com pincel parece ser mais comum que os graffitis feitos com spray – o que cria um estilo próximo da street art que se vê em Montevidéu, por exemplo.
Notei que muitos murais estavam assinados com data recente, de 2017 para cá, então provavelmente as cores da cidade mudam o tempo todo.
Pode ser legal acompanhar pelo site Cronica del Graffiti e pelo Instagram de artistas urbanos locais como Giova e Maxi Zamora para descobrir o que há de novo.
Onde ver street art em Valparaíso
Embora a arte esteja em vários bairros, é recomendado que os turistas se atenham às áreas Cerro Alegre e Concepción, que são mais turísticas. Outras áreas da cidade também possuem grafites interessantes, mas são consideradas menos seguras.
Para conhecer melhor a história e a street art em Valparaíso (ou para chegar aos bairros menos turísticos), uma dica é o Graffiti Free Tour que acontece todos os dias, às 10h e às 15h30, partindo da Plaza Anibal Pinto (em frente à estátua de Netuno).
É um passeio a pé com guias locais, que tem 2 horas de duração e o preço é naquele esquema de cada-um-paga-o-quanto-quiser (assim como os Free Tours já famosos na Europa).
Os funiculares que levam passageiros a partes mais altas dos cerros (100 pesos por viagem) e se tornaram uma das atrações turísticas da região. É perfeitamente possível chegar de um ponto a outro a pé, mas é algo local e um contato a mais com a cidade.
A própria entrada do Funicular que fomos, Rainha Vitória, fica dentro de um café com deliciosos bolos e artes locais a venda.
Apesar da rudeza pitoresca, a cidade tem uma atmosfera cativante. É visivelmente uma cidade pobre, mas lugares como a Pasaje Gálvez mostram que Valparaíso se reinventa.
Construções simples e casinhas de telhas metálicas que em algum momento do passado abrigaram estivadores hoje dão lugar a restaurantes, cafés, albergues e até mesmo cervejarias locais.