O que fazer em Havana: música e mojito em Cuba

Quando preparávamos os últimos detalhes da viagem, ao apagar das luzes de 2014, nós – e o planeta – fomos surpreendidos com o anúncio da retomada das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos. Um aceno para um futuro (agora não tão distante) fim do embargo econômico, algo que, segundo já se dizia, poderia mudar para sempre a vida na ilha. “Timing perfeito”, pensamos. E foi mesmo!

Se o futuro parece promissor aos olhos dos cubanos, a nós visitantes é o passado que encanta. Cuba é uma revolução congelada no tempo. No apogeu da modernidade, uma ilha atemporal, mas na iminência de (mais) uma transformação.

Havana Cuba - tres simbolos cubanos - foto do blog Vontade de Viajar
Três símbolos cubanos

Imagine a capital de uma República desprovida de arranha-céus espelhados ou engarrafamentos na hora do rush, sem McDonald’s, Starbucks nem lojas da Apple, e onde o acesso à Internet é caro e também escasso (wifi nem se diga!).

Assim é Havana, uma cidade à margem de um mundo massificado, e que apesar de uma decadência aparente, manteve-se singular, autêntica e fiel à sua própria história. E se é certo que há algo um tanto perverso em tamanho anacronismo, há também algo de muito valor.

Varal na varanda - Foto: Bud Ellison
Varal na varanda – Foto: Bud Ellison

Havana é cidade para se andar por dias e dias e se perder sem compromisso por seus labirintos arquitetônicos de tanta riqueza! Andar, acima de tudo, para apreciar seu conjunto, perceber sua harmonia e a história que ele conta.

Uma história que começa com o domínio espanhol, visível e preservado nas praças e sobrados coloniais de Habana Vieja e nas grandiosas fortalezas à beira-mar. E que segue, em sobreposição, por bairros como Miramar e Vedado, com construções que vão do clássico ao modernista, passando pelo art déco vindo de um período distante de grande influência norte-americana.

Havana Cuba - Foto de Stephen Colebourne
Arquitetura americana – Foto: Stephen Colebourne

E continua, enfim, com os enormes e imponentes edifícios de concreto de inspiração soviética, vistos aos montes – não por acaso – em lugares como a Plaza de la Revolución e arredores.

Todos subvertidos por elementos e interpretações pitorescos da cultura cubana. E sempre cruzados por ruas repletas de – não menos históricos – Ladas, Chevrolets e Fords reluzentes e multicoloridos, somados a charretes, rickshaws e sidecars à prova do tempo, que são uma atração à parte.

Havana Cuba - Foto Bas Boerman
Carros antigos em Cuba – Foto: Bas Boerman

O passeio no tempo se estende até o Malecón, o calçadão da orla de Havana, onde o pôr do sol é campeão entre cubanos e turistas. Um lugar venerado por todos e cheio de histórias para contar. No Malecón, é verdade, não há muito o que fazer além de vagar, vagar e ver gente passar. Se a expectativa é sentar em um quiosque ou um bar, isso não vai acontecer lá. Mas, ainda assim, é um charme!

Como uma vez bem definiram, o Malecón é um estado de espírito! Então seja para namorar ou chorar, para ver ou ser visto, conversar, falar sozinho ou só ouvir música: o Malecón está lá ao dispor de todos!

Havana Cuba - orla de Havana - foto do blog Vontade de Viajar
Daphne na orla de Havana

No meio do caminho é certo que ao menos um bar irá capturar o viajante com seus músicos carismáticos tocando ao vivo em Habana Vieja. No nosso caso, foram várias as paradas. Uma delas foi no bar La Bodeguita Del Medio (Calle Empedrado 207), um favorito de Hemingway, que nos ganhou pelas paredes que emanam tradição e pelo mojito, é claro, possivelmente “o melhor mojito do mundo” de Cuba.

Mas em Havana há vezes em que só a música já basta para que um lugar nos conquiste, não importa qual. É fácil se deixar cativar por essa legião de artistas tão talentosos, e como a rua é o espaço natural para as performances, a cidade está sempre em festa!

Havana Cuba - musico de jazz - foto do blog Vontade de Viajar
Ivan e o músico de jazz  ♪

Esta, aliás, é a dica número 1: dê preferência ao “beber”. Acredite, os mojitos, piña coladas, daiquiris e afins são realmente incríveis. Sentar em um bar ao longo da Calle Obispo no cair da noite, pedir um mojito e, de brinde, presenciar aquela música deliciosa é de fazer qualquer um abrir o sorriso. Não deixe de visitar o Café Paris (Calle Obispo 202) e La Dichosa (Calle Obispo esq. Compostela).

Interessante também é a tarde no Hotel Inglaterra (Paseo de Martí) para ouvir uma das melhores salsas de Cuba e observar a lua da Plaza Vieja, tomando uma cerveja artesanal em um de seus bares. Começamos a viagem com o intuito de fazer um ranking de mojitos, mas no terceiro dia já eram tantos que perdemos a conta de quantas estrelinhas cada um deveria ganhar :D

Havana Cuba - grafite de Che Guevara - foto do blog Vontade de Viajar
Grafite de Che Guevara

Nos hospedamos em duas “casas particulares” diferentes (a versão cubana do bed & brekfast): “Hostal Mercedes”, numa linda e imponente casa localizada em uma região privilegiada da cidade e um pouco mais afastada do centro; e “Las Bicicletas”, apartamento em um simpático prédio de Habana Vieja.

Difícil de acreditar em tamanha simpatia e boa vontade dos anfitriões que, por mais que estivessem recebendo pelo aluguel dos quartos, nos tratavam como grandes amigos, sempre conversando, dando dicas, contando histórias, partilhando momentos.

Havana Cuba - Havana Vieja - foto do blog Vontade de Viajar
As ruas de Havana Vieja

Ernesto, dono da primeira casa, um simpático cubano-espanhol, nos recebeu com uma linda e particular festa de año nuevo com charutos, moijtos e até uma bandinha só para nós! Seus funcionários são pessoas ótimas e de bom coração, éramos acordados todos os dias com huevos revueltos, pãezinhos fresquinhos e um delicioso suco de frutas.

Já Ariel e Carmen, donos da segunda casa, nos proporcionaram uma experiência mais intimista: cuidaram de nós como filhos, nos levando inclusive para pegar taxi de madrugada, e preparando um cafezito para não viajarmos de barriga vazia :)


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