Coleção de selos: como eu comecei a descobrir o mundo
Meu avô tinha uma coleção de selos que por muitos anos meu pai guardou com todo cuidado, como uma lembrança boa. Quando eu tinha uns 7 anos, meu pai me mostrou o caderninho com selos colados e eu fiquei encantada com as histórias dele e do meu avô.
Tinha selos do mundo inteiro! Como o vovô conseguiu um selo da Áustria? E que país é esse, Myanmar? Onde fica? E se esse selo é da Hungria, porque está escrito Magyar Posta? Helvetia é a mesma coisa que Suíça? Eu era uma criança naquela fase das perguntas e a coleção de selos era um prato cheio para a minha curiosidade!
Era como uma janela para espiar outras culturas numa época em que ainda não existia Google Translator, Instagram nem Pinterest.
Começamos a colecionar, eu e meu pai. Ele me ensinou as técnicas para descolar os selos sem danificá-los, como protegê-los do tempo, e mais um monte de coisas.
Eu ia vendo os lugares mais fantásticos do mundo desenhados naqueles selos pequenos e coloridos, imaginando as histórias que tinham vindo com a carta onde estava aquele selo. Quem da nossa cidade se correspondia com um chinês?
Alguns pareciam uma miniatura de cartão postal, mostrando os pontos turísticos daquele país, outros comemoravam acontecimentos históricos, conquistas olímpicas, tradições locais… Para não falar nos diferentes estilos de arte e ilustração, que iam do cartoon ao construtivismo!
Um dia a gente descobriu uma agência dos Correios especializada em filatelia no Rio de Janeiro. Foi uma alegria! Compramos um álbum novo, bem grande, para caber nossa coleção que já tinha mais de mil selos!
Durante muitos anos, se algum amigo ou alguém da família viajasse para o exterior, eu não queria saber de brinquedos importados… Eu só pedia para me trazer um selo daquele país.
Esses comprados em viagem eram os mais legais, porque vinham na cartela original com a série completa ou com desenhos assinados por grandes artistas daquele lugar. De Reis da França a personagens da Disney, a minha coleção tinha um pouco de tudo – passando por danças gregas, vinhos portugueses e borboletas equatorianas.
Ao longo do tempo, os selos passaram a ser auto-adesivos (que se rasgam ao descolar), cada vez mais correspondências passaram a ter carimbos no lugar dos selos… E começou a não ser tão fácil encontrar agências filatélicas pelo mundo sem fazer a gente desviar muito do roteiro turístico.
Eu já tinha uns 16 anos ou mais quando a coleção voltou para o armário.
Reencontrei o álbum um dia desses, quando estava arrumando a casa. Passei horas olhando de novo todos aqueles desenhos, de todos aqueles países… E foi então que percebi que as minhas viagens pelo mundo começaram muito antes do meu primeiro embarque num avião :)