Cadeados do amor: de Paris para o mundo
É puro romantismo: deixar em Paris um símbolo de uma história de amor, um cadeado lacrado como um compromisso eterno, e lançar a chave nas águas do rio Sena. Desde a virada dos anos 2000, a tradição dos “cadeados do amor” foi ficando cada vez mais pop, enquanto mais e mais casais trocavam juras de amor na Pont des Arts.
De repente até a capital internacional do romance ficou pequena para tanto amor, e os “love locks” começaram a tomar outras grades e pontes pelo mundo.
Em Pécs, cidade histórica e universitária da Hungria, a tradição também já é antiga – acho que até anterior à de Paris, pois os primeiros começaram a aparecer na década 1980. O lugar ostenta uma coleção de milhares de cadeados – já não se vê a grade sufocada de amor!
Reza a lenda que trancar um cadeado lá fortalece o relacionamento. Pelo sim, pelo não, meus tios fizeram o ritual quando estiveram lá, 5 anos atrás. Olha a alegria da minha prima mostrando o símbolo do amor dos pais, que levou o nome dela gravado também! :)
Recentemente, em Praga, as dez traves de ferro sobre um riacho na região Malá Strana também começaram a ver surgir penduricalhos.
Agora parece que o pessoal não pode mais ver uma grade vazia que logo tascam-lhe um cadeado. A prefeitura da capital tcheca já chegou a arrancar alguns até da estátua em miniatura de São João Nepomuceno, na ponte Carlos.
Mesmo quando estávamos passeando pelo Englischer Garten, em Munique, numa tarde tranquila de primavera, nos deparamos com os danadinhos numa grade sobre o rio que corta o parque. Nomes gravados e tudo.
A tradição cruzou continentes e foi parar em Montevidéu, no Uruguai, onde achou lugar numa fonte, que passou a ser chamada Fuente de los Candados. Uma plaquinha, com tradução também em inglês, explica a superstição. Mas a água que corre da fonte cisma em enferrujar tudo, expondo a esquisitice da cena.
A Rússia, por sua vez, resolveu plantar o amor: as estruturas no meio da ponte Luhzkov, perto da Galeria Tretyakov, em Moscou, são um convite à declaração dos apaixonados. Quando completas, parecem pequenas árvores.
Se o tempo fez bem aos casais eu não sei, mas certamente foi cruel com a Pont des Arts. Os cadeados que lhe deram fama mundial também lhe renderam danos estruturais e altos custos de manutenção.
Os cadeados enferrujados começaram a corroer as grades e o peso das milhares de peças de metal (54 toneladas!) sobrecarregam a capacidade da antiga ponte. Agora imagina todas aquelas chaves no fundo do rio Sena. Insustentável.
Esta semana, a prefeitura de Paris anunciou uma campanha para desestimular a tradição. Alicates para arrancar os cadeados? Só em último caso. Mas a mensagem está clara quando os parisienses pedem que casais do mundo todo publiquem fotos românticas com a hashtag #lovewithoutlocks. O amor é livre.