As casas de Pablo Neruda, no Chile: poesia e arquitetura
As casas de Pablo Neruda oferecem um roteiro lindo pelo Chile: Santiago, Valparaíso e Isla Negra. Em cada cidade, um registro das histórias e das paixões do escritor.
Casa de Pablo Neruda em Santiago: La Chascona
A primeira das casas de Neruda é a que fica em Santiago. Ele encomendou a construção desta casa em 1953, para se encontrar às escondidas com sua amante Matilde Urrutia.
Por causa de sua cabeleira ruiva, ele chamava Matilda de “La Chascona” – a descabelada – e assim ficou conhecida também a casa. A ela, foram dedicados Os Versos do Capitão:
… E, quando surges,
todos os rios marulham no meu corpo
os sinos abalam o céu
e um hino enche o mundo.
Apenas tu e eu,
apenas tu e eu, meu amor,
o escutamos.
A casa foi criada por um arquiteto catalão – Neruda era diplomata e havia passado uma temporada em Barcelona. E a arquitetura catalã você sabe como é, nada convencional. A decoração também é super interessante, toda com peças artesanais e móveis de madeira, escolhidas a dedo pelos amantes.
No jardim, as flores plantadas pela própria Matilde e um dos motivos dos amantes terem escolhido aquele local: um riachinho encantador com pontezinha de pedra e tudo.
O projeto tinha sido pensado para ficar de frente para a cidade, voltado para o lado do sol, mas o poeta encasquetou que queria a casa de frente para a colina San Cristoban, então virou a planta na hora de construir.
Os amigos de Pablo Neruda sabiam do segredo de La Chascona – o artista mexicano Diego Rivera chegou a fazer um retrato de Matilde, hoje exposto na casa-museu (repare no perfil de Pablo Neruda escondido entre os cabelos ruivos de sua amante, no canto direito do quadro).
Enquanto isso, Pablo ainda morava com sua esposa, Delia del Carril, na Casa Michoacan, na Avenida Lynch. Apenas em 1955 o poeta se separou de Delia e foi morar com a outra. Veja endereço, horário de funcionamento e preço do ingresso no site oficial.
Casa de Pablo Neruda em Valparaíso: La Sebastiana
Neruda se mudou para Valparaíso em 1959, em busca de uma vida mais sossegada, e por isso ele escolheu uma área pouco movimentada da cidade. “Sinto o cansaço de Santiago. Quero encontrar em Valparaíso uma casinha para morar e escrever tranquilamente” – o poeta escreveu numa carta para a escultora Marie Martner, sua amiga.
Esta casa não tem nome de uma musa. Ela começou a ser construída por um arquiteto espanhol chamado Sebastian, e o apelido foi em sua homenagem.
Era o lugar perfeito para Neruda: ele gostava de suas formas “disparatadas” :) Mas, como a casa era grande demais, Neruda ficou com os dois andares de cima e a torre, enquanto os dois andares debaixo e o sótão foram comprados pela própria Marie.
Adorei as janelinhas laterais que são como escotilhas de navio e o banco no jardim que tem o desenho do perfil de Pablo Neruda. Para aproveitar a linda vista do porto, o terraço ganhou uma luneta (e dizem que o poeta também espiava uma vizinha que às vezes aparecia de biquini para tomar banho de sol) :)
Mais uma vez, ele se dedicou a cada detalhe da decoração. O arquiteto tinha deixado a casa inacabada, e Pablo levou 3 anos para finalizar e deixar tudo a seu estilo. A transformação da casa foi registrada no poema La Sebastiana:
… Então a pintura
chegou também lambendo as paredes,
vestiu-as de azul-celeste e cor-de-rosa
para que se pusessem a bailar.
Assim a torre baila,
cantam as escadas e as portas,
sobe a casa até tocar o mastro,
mas o dinheiro falta: faltam pregos,
faltam aldrabas, fechaduras, mármore.
Hoje estão em exposição na casa as coleções mantidas pelo escritor: mapas, quadros e objetos curiosos de decoração. Em 1997, foi inaugurado um Centro Cultural anexo à casa, que promove exposições, conferências e cursos de poesia. A biblioteca também é riquíssima, com mais de 2.500 livros.
Valparaíso fica a cerca de 2h30 de Santiago e é o bate-e-volta mais famoso da capital! Existem várias empresas de tour que oferecem passeios de um dia, muitos deles também passam em Viña del Mar. Mas se você quiser tempo para explorar o museu e a cidade com calma (é um pólo de street art!), também pode ir por contra própria.
Veja endereço, horário de funcionamento e preço do ingresso para La Sebastiana no site oficial.
Casa de Pablo Neruda em Isla Negra: Las Gaviotas
A pouco mais de 2 horas de Santiago, Ilha Negra é uma pequena vila de pescadores no litoral chileno, conhecida mesmo por ter abrigado a casa do escritor após seu retorno da Europa.
De todas as casas de Pablo Neruda, esta é provavelmente a mais representativa de seu imaginário poético. Lá estão os objetos que ele trouxe de toda parte do mundo: barquinhos, conchas, cachimbos e garrafas de formatos engraçados… Pablo se dizia um “coisista”, gostava de acumular coisas e souvenirs :)
E, talvez por saudade do terraço de La Sebastiana, ele fez questão de abrir um terraço no alto desta casa também, para apreciar a vista o encantava.
O Oceano Pacífico saía do mapa. Não havia onde o pôr. Era tão grande, desordenado e azul que não cabia em nenhuma parte. Por isso o deixaram em frente à minha janela.
O local originalmente se chamava Las Gaviotas, mas Neruda renomeou como Ilha Negra pelas rochas pretas que cercam o mar e a tranquilidade que ele tanto gostava.
Pablo Neruda morreu em 1973 e foi sepultado em túmulo anônimo no Cemitério Central de Santiago – sua obra havia sido censurada pela ditadura de Pinochet. Só em 1992, dois anos depois da democracia se reinstaurar no Chile, o poeta recebeu as devidas homenagens e teve atendido o pedido feito 50 anos antes:
Companheiros,
enterrem-me na Isla Negra
defronte do mar que conheço
de cada área rugosa de pedras
de ondas que meus olhos perdidos
não voltarão a ver…
Nos jardins de sua antiga casa, agora está o mausoléu do poeta, num pequeno terraço de pedras na forma da proa um barco, de frente para o Oceano Pacífico.
Veja endereço, horário de funcionamento e preço do ingresso para a casa de Isla Negra no site oficial.