Um sonho surrealista no Museu Dalí, na Espanha
A todos que viajam para Barcelona, eu indico tirar um dia para visitar Figueres, a cidade natal de Salvador Dalí, onde está o Teatro-Museu totalmente dedicado ao artista e desenhado por ele próprio, nos anos 60.
Mas confesso que eu mesma não teria conhecido Figueres se não fosse a minha amiga Ariane, que viajou comigo pela região da Catalunha. Nunca fui muito fã de surrealismo e foi ela quem me convenceu a visitar o museu.
Trem para Figueres
Optamos por ir de Barcelona a Figueres de trem – o trajeto dura cerca de 1h a partir da Estação de Sants ou Passeig de Gràcia. A passagem custa em torno de 20 euros e você pode comprar no mesmo dia, em máquinas automáticas nas estações.
Pegamos o trem bem cedo para voltar a tempo de sair em Barcelona à noite. O trecho da estação de Figueres até o museu leva uns 15 minutos a pé, veja o mapa aqui.
No caminho, passamos também pelo prédio onde a família Dalí i Domènech morava quando Salvador nasceu, no endereço Carrer Monturiol, nº 6.
Logo quando dei de cara com o museu já fiquei impressionada com a arquitetura ousada! O mundo de fantasias de Dalí vai além da imaginação, e a cada obra que eu via no museu me fazia ficar mais encantada com ele. Realmente mordi a língua!
A fachada do museu é composta de paredes rosa choque quase vermelhas e pequenos adornos amarelos, mas o que mais chama a atenção são os ovos intercalados com estátuas douradas no topo do museu.
O ovo é um dos elementos recorrentes na obra de Dalí, como representação do nascimento e da transformação.
Mas a entrada do museu é pelo outro lado do prédio, onde a fachada preserva características do antigo teatro de Figueres, onde o artista fez suas primeiras exposições.
O teatro tinha sido bombardeado na Guerra Civil Espanhola e somente começou a ser recuperado em 1960, quando Dalí e o prefeito da cidade decidiram reconstruí-lo, dando espaço ao museu.
O pátio do Teatro-Museu
Por dentro, o primeiro grande impacto acontece quando a gente chega no pátio. Com paredes arredondadas e enfeitadas com estatuetas douradas, o pátio tem em seu centro uma grande escultura assinada por Ernst Fuchs.
É a versão em ferro da Queen Esther, que se encontra no Ernst Fuchs Museum em Viena.
Ela está sobre outra instalação igualmente intrigante: o cadilac preto “Taxi Chuvoso”, criado por Dalí para a Exposição Surrealista organizada por André Breton em 1938. Parece um Cadillac comum, mas espia pela janela para ver por dentro!
A visita continua no salão em frente, onde fica o maior quadro do museu, e de onde partem diversos corredores.
Cada sala guarda um pedaço da genialidade do artista. Quanto mais tempo ficamos observando suas obras, mais descobertas e mais suposições começamos a fazer sobre elas.
Estar no Teatro-Museu é uma experiência totalmente diferente, me fez refletir muito sobre como uma pessoa pode ter uma mente tão fantástica e criar coisas inesperadas como ele criou.
Quarto de Mae West
Uma das instalações mais célebres – que foi remontada no Brasil durante a exposição do CCBB em 2014 – é o quarto surrealista inspirado no rosto de Mae West, atriz hollywoodiana dos anos 30.
Mae fez diversos papéis provocantes e é dona da famosa frase “Quando eu sou boa, sou ótima. Quando eu sou má, sou melhor ainda” ?
A boca se tornou sofá e o nariz se tornou lareira. Quando a gente olha o quarto de frente, dá para ver certinho o rosto da atriz, tendo cortinas na entrada da sala para fazer o cabelo louro. Obras como essa se tornaram grandes referências para artistas que vieram depois, como Andy Warhol.
A coleção inclui peças de todas as fases de Dalí (e não foram poucas!) – desde Port Alguer, quando ele ainda fazia pinturas figurativas, até Galatéia das Esferas, um retrato surrealista de Gala, sua musa inspiradora.
São dezenas de desenhos, colagens, instalações, esculturas e até holografias, além de algumas obras da coleção particular de Salvador Dalí, como São Paulo pintado por El Greco e uma edição da Boîte-en-Valise criada por Marcel Duchamp.
Dalí Joyas
Depois de percorrer todo o acervo de arte do museu e mudar minha opinião sobre Salvador Dalí, a Ariane nem precisou me convencer a entrar no Dalí Joyas. Esse outro espaço dele tem uma entrada separada do museu principal, mas se pode visitar com o mesmo ingresso.
Aqui você encontra uma coleção de joias desenhadas pelo artista, de colares a peças decorativas. Todas super diferentes e extremamente luxuosas – executadas com a ajuda do joalheiro argentino Carlos Alemany.
Algumas são tão inusitadas que nossos olhos mal acreditam no que vêem, como o coração de rubi que pulsa de verdade!
Dalí também colaborou em diversos projetos com Elsa Schiaparelli, designer italiana que criou joias e vestidos tão controversos quanto as instalações de arte dele. O vestido da lagosta, por exemplo, ligeiramente escandaloso para o início da década de 30.
As peças são supreendentes, muito diferente do que a gente imagina quando pensa em joias. Olha essa imagem da Madelle Hegeler (1959) com os “Lábios de Rubi” e o “Olho do Tempo” – é como se as joias a transformassem em uma figura surrealista.
A esta altura, já na década de 1950, Salvador Dalí já não fazia parte do movimento surrealista, nem participava das exposições organizadas por André Breton… Mas as peças ainda refletem o imaginário de sua obra.
Várias joias trazem elementos recorrentes das pinturas do artista, como o elefante inspirado Pulcino della Minerva e o famoso relógio derretido, que remete à relatividade do tempo.
Dizem que Salvador Dalí queria construir um labirinto surrealista, para que as pessoas saíssem do Teatro-Museu com a sensação de terem tido um sonho teatral. Quando a gente pega o trem de volta de Figueres, a gente sabe que foi exatamente essa a experiência.
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