Café e história na Avenida de Mayo
Um endereço conhecido de todo mundo que viaja para Buenos Aires, a Avenida de Mayo muitas vezes serve apenas de passagem para quem vai ao Café Tortoni, mas ela vale um belo passeio.
A Avenida de Mayo foi criada durante a Belle Époque, uma reforma urbanística no início dos anos 1890, inspirada em Paris, como a que aconteceu no centro do Rio de Janeiro. Na viagem que fizemos em abril, eu e minhas amigas ficamos hospedadas em um hostel na própria avenida e pudemos conhecer melhor esse endereço recheado de bons achados.
Cultura e arquitetura
O ponto de partida é a Plaza de Mayo, onde fica a sede do Governo da Argentina, a Casa Rosada. Saindo dali, logo no primeiro quarteirão (nº 575) está o luxuoso edifício da Secretaria de Cultura, onde um dia funcionou o jornal La Prensa, que era referência internacional até os anos 50.
O Salón Dorado, no primeiro piso do prédio, é inspirado em um salão do Palácio de Versalhes, na França. No topo da fachada, uma estátua com uma tocha e uma folha escrita simboliza a liberdade de imprensa.
O primeiro metrô da América do Sul
A estação Perú (próx. nº 602), na linha A do metrô de Buenos Aires (chamado de “subte”), foi a primeira de toda a América do Sul, inaugurada em 1913. Se passar por ali, dê uma olhada na arquitetura original e nos cartazes publicitários de época. Os vagões feitos de madeira também são curiosos.
Os famosos alfajores argentinos
Um pouco mais adiante, uma pausa para um café. Além do alfajor que já é obrigatório, o Café Havanna (nº 615) tem maravilhosos frappés, inclusive um de doce de leite que é sensacional, ainda que super doce. Os sanduíches de ciabatta e os biscoitos são uma delícia também.
Eu e minhas amigas deixamos para voltar ao Havanna no final do dia, porque sabíamos que sairíamos de lá carregando várias caixinhas de alfajor para levar para casa – uns de chocolate meio amargo, outros de café, de merengue e tudo mais.
Tradicional Café Tortoni
O histórico Café Tortoni (nº 825) faz parte do roteiro, é claro (já falamos dele no post sobre as confeitarias mais tradicionais do mundo). Antes frequentado por escritores, músicos e grandes personalidades da intelectualidade portenha, o Tortoni hoje em dia tem fila de turistas à porta.
O café se mantém fiel ao estilo Art Nouveau da época de sua inauguração, em 1858, com lustres, espelhos e peças de mármore. Pode ser uma alternativa para ir à noite também.
Lojas na Avenida de Mayo e Evita Perón
Um pouco mais adiante, encontramos a Artentino (nº 933), uma lojinha super colorida de acessórios para a casa. Tem outras filiais da loja no Retiro, na Recoleta, em Palermo… A Argentina tem bons achados de design, vale a pena dar uma espiada.
Ao cruzar a Avenida 9 de Julio, olhe para os dois lados para ver de longe o Obelisco, ícone de Buenos Aires, e o retrato de Evita Perón na lateral do prédio do Ministério da Saúde.
Onde se hospedar na Avenida de Mayo
E então chegamos ao Milhouse Avenue (nº 1245), com sua discreta porta preta. É uma localização muito boa, especialmente para quem está viajando para Buenos Aires pela primeira vez. Dali é fácil circular pela cidade, com metrô no próprio quarteirão, além de ter vários pontos turísticos próximos.
O hostel é grande, bem organizado, e tem um pátio interno bem ao estilo dos prédios do século 19. O café da manhã é que podia ser um pouco melhor. Todo dia tem um calendário de atividades sugeridas e toda noite tem festa ali ou no outro da mesma rede, que fica a poucos quarteirões, na HipólitoYrigoyen.
Palácio Barolo: do inferno ao céu
Logo em frente, está uma das grandes pérolas da Avenida: o curioso Palácio Barolo (nº 1370). A construção foi toda inspirada na Divina Comédia, de Dante Alighieri, e é cheia de alusões a esse clássico da literatura. A arquitetura é genial em cada detalhe!
O edifício é dividido em três partes como o livro: o térreo representa o inferno, os 14 andares o purgatório e a torre o paraíso! Vale muito a pena fazer a visita guiada do Palácio Barolo para desvendar seus mistérios e se impressionar com a vista do farol da torre!
Praça do Congresso
A Avenida de Mayo é o palco usual para grandes passeatas e manifestações, por ligar os dois centros de poder da Argentina: a Casa Rosada e o Congresso Nacional, que fica na outra ponta da via. Dois dias antes da nossa viagem, a Avenida tinha sido tomada por milhares de cidadãos protestando contra a corrupção, a política financeira de Cristina Kirchner e a reforma do Judiciário proposta pela presidente.
Ao chegar na Praça do Congresso, aproveite para ver um dos 8 originais da estátua “O Pensador”, de Rodin, símbolo da esperança de que dali surgissem ideias iluminadas para o país.
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